Título: Operação Satiagraha acirra divisão na PF
Autor: Galhardo , Ricardo ; Aggege , Soraya
Fonte: O Globo, 26/07/2008, Economia, p. 26

SÃO PAULO. As divergências na condução da Operação Satiagraha deflagraram uma guerra interna na Polícia Federal (PF). Com base na representação do delegado que foi afastado do caso, Protógenes Queiroz, o Ministério Público Federal deve convocar para depor pelo menos quatro integrantes da cúpula da PF. Por outro lado, a Corregedoria Geral da corporação instaurou inquérito para averiguar, entre outras coisas, possíveis irregularidades cometidas por Protógenes, que também será convocado pelo MPF.

O procurador da República Roberto Dassié Diana disse ontem que já está analisando a gravação de três horas da reunião da PF que resultou na saída de Protógenes. Dassié adiantou que poderá convocar o corregedor-geral, José Ivan Lobato, o superintendente em São Paulo, Leandro Daiello Coimbra, o chefe do setor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Troncon Filho, e o chefe da Delegacia de Repressão aos Crimes Financeiros, Paulo de Tarso Teixeira. Todos integram a cúpula da PF.

Eles deverão esclarecer as acusações de obstrução das investigações e do vazamento de informações para o grupo de Daniel Dantas, apontadas ao MPF pelo próprio Protógenes. Na representação ao MPF, o delegado afastado expõe os bastidores da queda-de-braço na própria corporação. Protógenes chegou a afirmar que foi perseguido por agentes da PF, que tentavam inibir seu trabalho.

- Nunca vi uma coisa dessas. A não ser durante o regime militar. Naquela época, ninguém tinha segurança. Mas hoje, em plena democracia, isso é inaceitável - disse o presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Federal do Estado de São Paulo, Amaury Portugal.

As denúncias de Protógenes irritaram a cúpula da PF, que enviou anteontem a São Paulo o delegado Amaro Lucena, da Corregedoria Geral, de Brasília.

Chicaroni e Braz: pedidos de habeas corpus negados

Lucena instaurou um inquérito que, além do vazamento de informações, investigará uma representação feita pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI), citado nos grampos da Satiagraha, contra o delegado Protógenes.

O procurador Dassié disse que enviou ofícios com mais de dez questões para cada setor da cúpula da PF, tanto sobre a estrutura oferecida ao delegado Protógenes quanto sobre o suposto vazamento da operação para Dantas. Ele pediu também a listagem completa de todos os policiais federais que aturaram na operação, desde o início, para investigar o vazamento de informações.

- Em sua representação, Protógenes fala, por exemplo, em reuniões que aconteceram. Saberemos as pessoas que estavam presentes - disse Dassié.

A PF disse ontem que a corporação só se manifestará no momento oportuno.

O Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo negou ontem o pedido de habeas corpus a Hugo Chicaroni, preso na Satiagraha, acusado de tentar subornar um delegado da PF para retirar Dantas e seus familiares das investigações. Outro acusado do suborno, Humberto Braz, também continua detido, em Tremembé (SP). Ontem ainda, o STJ negou habeas corpus a Braz. Para o vice-presidente do STJ, ministro Cesar Asfor Rocha, sua prisão foi justificada.

www.oglobo.com.br/economia