Título: Dificuldade para vender facilidade
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 13/08/2008, País, p. 3

CUIABÁ. De acordo com o superintendente da PF em Cuiabá, Oslaim Santana, as investigações contra a quadrilha envolvendo funcionários públicos começaram após denúncias de que servidores do Incra estavam cobrando propina para a liberação de Certificados de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR), documento sem o qual o proprietário rural não consegue financiamento público nem fazer transferência em cartório no caso de venda da propriedade.

- Eles (servidores do Incra) criavam dificuldade para vender facilidade - disse Santana.

Cerca de 30 fazendeiros que se valeram das fraudes foram indiciados e vão responder em liberdade. As propinas, segundo a PF, variavam de R$100 a R$30 mil e eram pagas em dinheiro. O esquema cooptava produtores rurais que tinham a necessidade de obter o CCIR. A intermediação era feita pelo despachante.

- Os fazendeiros acabavam pagando para ter celeridade nos processos - disse o delegado.

No decorrer das investigações, os agentes da PF descobriram a participação do procurador do Incra, Antônio Reginaldo Galdino Delgado, cujos pareceres eram sempre favoráveis à concessão dos benefícios aos fazendeiros. Seu advogado, José Petan Toledo Pizza, nega qualquer participação do procurador nos crimes. Segundo a PF, existem indícios de que o esquema fraudou processos de concessão do CCIR.

- A investigação indica que existem documentos falsos nos processos. Mas isso só poderá ser confirmado após a análise da perícia - disse o delegado.

Com o andamento das investigações, os policiais descobriram que despachantes que atuavam no Incra também participavam de fraudes na Receita Federal. Neste órgão, a PF acusa três servidores de vazar dados sigilosos, cancelar créditos tributários, além de cometer fraudes em processos de restituição de Imposto de Renda e regularização de CPFs com pendências. Os acusados vão responder a processo por corrupção ativa, corrupção passiva e formação de quadrilha.