Título: Bolívia: OEA aponta problemas em referendo
Autor:
Fonte: O Globo, 13/08/2008, O Globo, p. 29

Segundo relatório, propaganda política ilegal estava presente em 30% das seções eleitorais

LA PAZ. A Organização dos Estados Americanos (OEA) publicou ontem um informe apontando uma série de irregularidades cometidas durante o referendo revocatório de mandatos na Bolívia, no domingo. Segundo a entidade, que enviou observadores internacionais para a votação, em 30% das seções eleitorais foi registrado algum tipo de propaganda política ilegal, e em 32% das seções alguns eleitores devidamente registrados não puderam votar por problemas técnicos desconhecidos. O documento revela, ainda, que em 9% das seções ocorreram violações ao voto secreto, e em 5% a segurança das cédulas eleitorais durante a apuração não foi preservada. O órgão sugeriu que seja feita uma auditoria sobre o processo de votação.

Segundo o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, 125 observadores da entidade trabalharam em todas as regiões do país durante o referendo.

- De acordo com o Código Eleitoral da Bolívia, toda propaganda eleitoral está proibida 48 horas antes de qualquer eleição. Mas não foi isso o que foi observado - disse.

O informe, apesar de sugerir auditoria sobre a votação, não invalida o referendo nem recomenda um novo pleito. Mesmo assim, o parecer da OEA pode servir de material para inflamar a situação política do país, ainda mais dividido após a votação entre governistas e opositores.

O chefe da missão de observadores da OEA, Eduardo Stein, disse que muitas outras denúncias de irregularidades foram transmitidas ao grupo, mas a falta de comprovação fez com que não constassem no relatório:

- A sugestão da auditoria é para evitar que dúvidas recaiam sobre o processo e aumentem ainda mais a instabilidade no país.

Morales convoca governadores ao diálogo

Parecer semelhante ao da OEA sobre o referendo também foi dado ontem pelos observadores do Conselho de Especialistas em Eleições da América Latina. Segundo a entidade, as autoridades eleitorais precisarão dar informações mais claras tanto sobre o processo de votação quanto da apuração.

Ontem, com 75% dos votos apurados, o presidente Evo Morales tinha a aprovação de 65% dos eleitores, índice bem acima do necessário para que se mantenha no cargo. A Corte Nacional Eleitoral (CNE) também informou que os governadores da oposição Rubén Costas, de Santa Cruz (com 68%); Ernesto Suárez (Beni, 65%), Mario Cossío (Tarija, 58%) e Leopoldo Fernández (Pando, 56%) vão confirmar seus mandatos. O mesmo conseguiu o governista Mario Virreira em Potosí, com 66%. As autoridades regionais que estão perdendo são os governadores da oposição José Luis Paredes, de La Paz (com 62% de votos contra), Manfred Reyes Villa, de Cochabamba (com 62% de "não"), e o governista de Oruro, Alberto Aguilar (52%).

Após a divulgação dos resultados parciais, o governo boliviano convocou para hoje uma mesa de diálogo em La Paz com todos os governadores que deverão conservar os seus cargos. Segundo o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, a proposta é "instalar imediatamente um diálogo dirigido a resolver os problemas que preocupam os bolivianos".