Título: No Rio, a força do interior
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 25/08/2008, Economia, p. 17

Participação da região no PIB fluminense passa de 35,8% para 57,3%, com pólos industriais

Fabiana Ribeiro

A força da economia fluminense volta para o interior do estado - não ficando mais apenas na cidade do Rio de Janeiro. A participação da capital no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) da região caiu de 64,2% em 1997 para 42,7% em 2006. O interior, por sua vez, ampliou sua fatia na produção fluminense: nos últimos 10 anos, saiu de 35,8% para 57,3%. Nessas contas, a Bacia de Campos é excluída, para não distorcer a análise das informações municipais. As conclusões são de estudo da Fundação Centro de Informações e Dados do Rio (Cide), feito com exclusividade para O GLOBO.

- Esse movimento ficou mais intenso a partir de 2000 e, agora, se consolida. Incentivos fiscais, ampliação da infra-estrutura, políticas de capacitação e salários menores no interior criaram oportunidades fora da cidade do Rio. Ao mesmo tempo, o município do Rio manteve-se numa fase de semi-estagnação econômica - explica Ranulfo Vidigal, pesquisador do Cide e autor do levantamento.

Na avaliação de Vidigal, a capital passou a concentrar as atividades de maior valor agregado - com destaque para o setor de serviços (68,7% do PIB). Já o interior, os pólos industriais. Para se ter idéia, o segundo maior PIB do Rio é o de Duque de Caxias, cuja estrutura produtiva se baseia nas atividades da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) e do Pólo Gás-Químico. O terceiro PIB é o de Volta Redonda, com forte influência da siderurgia da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). E o quarto PIB é o de Niterói, onde a indústria naval responde por cerca de um terço da atividade econômica. A divisão teve impacto no mercado de trabalho, informa o pesquisador:

- A cidade do Rio tende a concentrar as vagas de nível superior e especialização. As demais regiões abrem espaço para os empregos industriais, a exemplo do que se vê na região do Médio Paraíba, com a indústria automobilística.

Capital: mão-de-obra com mais estudo

Um mercado de trabalho de melhor qualidade - com mão-de-obra com mais anos de estudo - é o que se tem no Rio, na comparação com o interior. Atenta às exigências das empresas, Patrícia Tenan está fazendo um MBA em logística, mesmo tendo especialização em marketing no currículo. Após 10 anos na mesma empresa, estava insatisfeita:

- Nessa época, comecei a procurar outras coisas e mandei currículo para vários lugares. Não apareceu nada de imediato e saí da empresa para estudar para concurso. Durante os três meses em que fiquei parada, fui chamada para participar de alguns processos seletivos, inclusive para o da Libra - conta ela, que hoje é analista comercial da Libra Terminal Rio, uma das administradoras do porto.

Segundo Franklin Dias, professor da UFF, a interiorização da economia fluminense é um movimento que se sustenta a longo prazo, pois desenvolve as potencialidades das regiões. Ele cita Nova Friburgo, com as confecções, e Santo Antônio de Pádua, com as rochas ornamentais.

- O Rio começa a caminhar em direção ao interior. E essa estratégia de crescimento é acertada, pois traz equilíbrio ao próprio estado: a distribuição de renda, por exemplo, ficou mais justa ao deixar de se concentrar apenas na capital - afirma Dias, destacando que a melhor distribuição evita os movimentos migratórios apenas para o Rio.

Para Patrick Carvalho, chefe da divisão de Estudos Econômicos da Firjan, a interiorização do desenvolvimento não é uma tendência apenas do Rio. É um fenômeno nacional. Além de políticas públicas locais e de incentivo, inovações tecnológicas e avanços no campo das telecomunicações contribuem para que empresas se instalem fora das capitais.

- De cem municípios que fazem parte do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, apenas dois são capitais. Além disso, dos 26 estados, mais da metade das capitais cresce menos do que o respectivo estado. O Rio, por exemplo, cresceu 12,4% de 2000 a 2005. O estado, 17,3% - diz Carvalho.

Apostar no interior do Estado do Rio - e de outros estados - tem sido a estratégia de crescimento da Alterdata, sediada em Teresópolis. E tem dado certo. Em 2007, faturou R$27 milhões, e a expectativa para 2008 é de R$31 milhões. Vem registrando, em média, crescimento de 28% nos últimos 10 anos. Segundo Ladmir Carvalho, diretor da empresa, a tecnologia de softwares e de telecomunicações dispensa a necessidade de se estar num grande centro e, com isso, ganha-se qualidade de vida.

- Apostar no interior é uma estratégia que deu certo no Rio e que levamos a outras regiões. Em Minas e em São Paulo, também entramos pelo interior - afirma.

Os arredores do Rio também representam uma oportunidade profissional para muitos trabalhadores qualificados. Como Luiz Paulo Sobral Neves, formado em ciências contábeis e com ampla experiência na área comercial. Trocou um emprego no Rio pelas perspectivas profissionais na Personal Service, em Duque de Caxias. Lá, ele é supervisor de licitações.

- Ao mudar de emprego, não houve alteração no salário, mas sim nos benefícios - conta.

E as perspectivas para o interior do Rio seguem otimistas. Segundo Vidigal, o estado fluminense deve receber, até 2011, US$50 bilhões em investimentos. O que pode favorecer ainda mais os arredores da capital, em especial Itaguaí - que, com PIB de R$2 bilhões, receberá investimentos em siderurgia - e Itaboraí - com PIB de R$1,1 bilhão, que receberá o Comperj:

- Em cinco anos, esses dois municípios devem estar entre os que mais crescem - observa.

Nem todos os municípios do Rio são exemplos de prosperidade. No levantamento do Cide, entre os menores PIBs estaduais estão aqueles ligados a uma agricultura decadente - São Sebastião do Alto, São José de Ubá, Varre-Sai, Macuco, Laje do Muriaé, Aperibé e Cardoso Moreira.

Para o economista Mauro Osório, Rio e Estado do Rio mostraram uma pequena evolução econômica, mas ainda há muito o que fazer. Há poucos pólos industriais com destaque como o de petróleo, que garante royalties aos municípios. Se fosse pelo petróleo, o interior não teria nada, argumenta.

- Não há dinamismo econômico no Rio. A produção industrial do estado cai de 1995 a 2007. De 1995 a 2006, segundo dados da Rais, o Rio é a unidade da federação que menos cresce em postos de trabalho - critica Osório.