Título: Partidos deviam filtrar candidatos
Autor: Lamego,
Fonte: O Globo, 23/08/2008, O País, p. 9

Para especialistas, legendas, Congresso e Judiciário têm que mudar situação

Cláudia Lamego

Depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiram que candidatos que respondem a processos, sem trânsito em julgado, podem concorrer a cargos públicos, cabe aos partidos barrar aqueles que têm ficha suja. Especialistas dizem que a pressão agora recai sobre as legendas sim, mas é preciso também cobrar do Congresso Nacional que formule novas leis para evitar distorções como essa no processo eleitoral. E também do Judiciário, para que resolva o problema da lentidão na tramitação dos processos no país.

- Os partidos deviam fazer um filtro e vetar candidatos envolvidos em crimes, porque eles desabonam o exercício da atividade pública. Agora o eleitor tem que ter atenção maior ao pleito e não votar em pessoas que não merecem confiança. Mas há também a necessidade de os partidos começarem a ter uma postura diferente. Eles estão preocupados em atingir o coeficiente eleitoral e acabam fechando os olhos para a vida pregressa dos candidatos - diz o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-RJ.

O fato de o TRE do Rio decidir instalar detector de metais para evitar que candidatos entrem armados para assistir às sessões mostra, por um lado, que o tribunal tem acirrado a luta contra os fichas-sujas, e, por outro, que há uma perigosa mistura entre polícia e política no Rio.

- A mistura entre política e polícia é um sintoma extremamente grave. Não sei em que medida os partidos vão ter coragem de abdicar desses candidatos que, mesmo com ficha criminal, trazem muitos votos. A pergunta é: quem vai jogar a primeira pedra? Quem vai começar esse processo, num sistema de competição tão forte entre os partidos? - pergunta Marly Silva da Motta, do CPDoc da Fundação Getulio Vargas.

A professora, citando sua tese de doutorado, lembra que houve uma mudança no perfil dos vereadores do Rio desde a década de 40, quando a Câmara tinha mais políticos formadores de opinião. Segundo ela, hoje, além de eles serem de perfil mais assistencialista, ainda estão se envolvendo mais em crimes:

- Políticos com centros sociais estão sendo acusados de outros crimes, como participação em milícias. Está havendo esse cruzamento perigoso.

Para Ricardo Ismael, é preciso haver pressão sobre o Congresso Nacional para que haja mudanças na lei eleitoral:

- Os tribunais eleitorais e a imprensa, quando denunciam os candidatos acusados de crimes, estão fazendo a sua parte. A pressão agora é sobre o Congresso Nacional. A Justiça também tem que acelerar os processos.