Título: 'Alckmin derrete, e Marta faz uma campanha mentirosa
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Fonte: O Globo, 05/09/2008, O País, p. 10

Maluf ataca adversários mais bem colocados, elogia o ex-aliado Kassab, se diz um democrata e afirma que sua prisão foi política

Em quarto lugar nas pesquisas, o deputado Paulo Maluf (PP) ataca os adversários Marta Suplicy (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), enquanto afaga o prefeito Gilberto Kassab (DEM), seu antigo aliado e terceiro colocado na disputa pela prefeitura de São Paulo. Maluf nega, mas dá sinais de que pode usar sua campanha para jogar pesado contra os dois primeiros colocados, ajudando Kassab a tentar chegar ao segundo turno. Para Maluf, Alckmin está se "desmilingüindo, se derretendo" e a campanha de Marta é "mentirosa". Esta semana, Maluf colocou no programa de TV a desastrada frase de Marta sobre a crise aérea: "Relaxa e goza". A Justiça Eleitoral mandou o PP tirar o áudio do ar. Maluf, autor de declarações como "estupra, mas não mata", sobre a violência contra as mulheres, responsabilizou seus marqueteiros pela veiculação.

MALUF: "Não gosto do Pitta, mas pegar um indivíduo que foi prefeito, de pijama, algemar, como se a polícia fosse capitão do mato e ele fosse um escravo nojento?"

Tatiana Farah, Soraya Aggege, Germano Oliveira, Silvia Fonseca e Ascânio Seleme

O senhor foi prefeito duas vezes. Por que está quebrando a promessa, já que disse que não deveriam mais votar no senhor se Celso Pitta não fosse bom prefeito?

PAULO MALUF: Ninguém pode duvidar que eu amo São Paulo. Se, naquela ocasião, eu quis que Pitta fosse prefeito, foi para demonstrar que São Paulo não tem preconceito, que elegeu um carioca e negro. Fiz na melhor das boas intenções. A única pessoa que eu não entrevistei antes da eleição foi a mulher dele (Nicéia Pitta, autora das denúncias contra Pitta e Maluf). Esse foi meu erro.

O senhor se acha um predestinado ou um obstinado?

MALUF: Eu sou um obstinado, um perfeccionista. Não sou vidente nem adivinho. Não sou Zaratustra. Mas São Paulo vai parar. E não adianta vir com mentiras eleitorais. Dona Marta (Suplicy, candidata pelo PT) diz que vai construir 47 km de metrô. Quem começou o Metrô foi o Faria Lima, com o projeto, e o Maluf, com a execução, em 68. Nesses 40 anos, todos os governadores, todos os prefeitos, fizeram 50 km de metrô. Como é que alguém sozinho vai fazer 47 km?

O senhor está dizendo que Marta está mentindo?

MALUF: Não diria que ela é mentirosa porque não quero ofender ninguém. Diria que a assessoria dela é mentirosa.

Foi por isso que o senhor começou a atacá-la na campanha?

MALUF: Estou a vida inteira na rua. Quem faz o meu marketing é Marcelo Teixeira e José Nivaldo, dois grandes marqueteiros. Já trabalharam para Marta. Têm liberdade para fazer o programa, não interfiro.

Mas é seu programa. É o senhor o candidato.

MALUF: O programa é da minha candidatura e do meu partido. Dá licença? Eu não faço o meu programa! Quem faz são eles. E resolveram colocar (a frase "Relaxa e goza").

O senhor autorizou?

MALUF: Fui surpreendido. Nem aprovei nem os repreendi. Eles têm toda a liberdade. Se fui prefeito e governador, foi pelas mãos do Duda Mendonça.

O senhor mesmo já foi vítima de uma frase infeliz, "Estupra, mas não mata".

MALUF: Não nego o que eu disse. E todos eles veicularam. A mim espanta que vocês estejam defendendo a Marta, alegando que eu não tenho liberdade de veicular.

Só estamos perguntando se o senhor aprovou...

MALUF: Nem aprovei, nem dei reprimenda. Fui surpreendido com a frase, a responsabilidade é deles.

Se seus marqueteiros prometerem um absurdo, vai cumprir?

MALUF: Se ele promete 47 km de metrô eu vou dizer: "você é um mentiroso, imbecil, idiota, está na rua".

Qual é sua estratégia, então, em relação a Marta?

MALUF: Em primeiro lugar, ela foi bem derrotada. E quando ela promete hoje mundos e fundos, caberia a vocês, da mídia, questioná-la.

O senhor a apoiou em 2004, não?

MALUF: Eu fui candidato. No segundo turno, o presidente do partido veio de Brasília dizendo: "Maluf, estamos na base do governo e pedimos a você que nos faça a gentileza de não apoiar o PSDB (Serra era o candidato)". Mas eu queria que eu fosse eleito, não ela.

Mas o senhor a apoiou.

MALUF: O partido a apoiou.

O PP pode repetir isso?

MALUF: O partido hoje está um pouco diferente. Sem querer agredir ninguém, o partido tinha na presidência o Pedro Correa, mas hoje é o senador Francisco Dornelles, um homem com quem a gente pode ter um diálogo mais sincero.

A filha do Pedro Corrêa (Aline Corrêa) não é a sua vice?

MALUF: O que tem uma coisa com a outra? Se o seu filho atropelar alguém aqui na rua, você vai preso? Mas, como estou vendo o Alckmin se desmilingüindo, se derretendo, e eu e o Kassab subindo, tenho condições de ir ao segundo turno.

Por que o senhor diz que Alckmin está desmilingüindo?

MALUF: Primeiro, as pesquisas estão mostrando. Segundo, a televisão dele é muito ruim.

O senhor está poupando o Kassab. Ele já foi seu aliado, integrou a gestão do Pitta...

MALUF: Ele foi vereador comigo, foi ótimo. Foi deputado estadual comigo, foi ótimo. Foi deputado federal na minha legenda, foi ótimo. Tenho do prefeito Gilberto Kassab a melhor das impressões, como homem público e de família. É engenheiro da escola Politécnica como eu. Mas se você perguntar quem se elege, é Paulo Maluf, não ele.

Pesquisa da agência DataSenado mostra que 88% dos entrevistados mudarão o voto por causa da lista suja. O que o senhor acha disso?

MALUF: Esses processos... É a mesma coisa que está acontecendo com a escuta do Supremo. Não tem responsabilidade. Tenho processos, sim, mas quero que você cite: 41 anos de vida pública e nenhuma condenação penal.

Quantos processos o senhor tem? São mais de 60, não são?

MALUF: Não sei quantos. Mas condenação, nenhuma.

O senhor falou nos processos de improbidade, mas há as ações penais de crimes contra o sistema financeiro. Com prisão decretada nos Estados Unidos, como pretende...

MALUF: Não é verdade. Isso é mentira. E eu sou contra o foro privilegiado. Tem uma emenda do deputado Marcelo Itagiba. Eu assinei a emenda. Tenho certeza que quem será contra isso são os juízes e promotores.

Mas, no caso da avenida Águas Espraiadas (objeto das investigações de crime financeiro), o senhor se arrepende do processo licitatório?

MALUF: Foi uma avenida que saiu de graça. Você sabe o que é o Cepac? É o Certificado de Potencial Adicional de Construção. Para construção de prédios mais altos. Estou provando na Justiça que a Água Espraiada deu lucro: custou R$450 milhões e já arrecadou R$500 milhões do Cepac.

O senhor fala em grandes obras, inclusive uma freeway sobre o rio Tietê. É faraônica? Viável?

MALUF: Aqui tem um anteprojeto (mostra papéis), vamos descer 90°, sem tapar o rio, com as pistas de tráfego. A freeway não vai gastar nada em desapropriações. E a obra custará R$3 bilhões.

O senhor conviveu muito com caciques. São Paulo ainda tem caciques políticos?

MALUF: Por que eu? Eu sou um democrata! Tenho muito orgulho de ter colocado meu pescoço naquela guilhotina. E não conspirei contra o Tancredo, não. Fui até o fim para ser derrotado, para o Tancredo ser eleito. Porque, se eu conspirasse, o presidente não seria o Tancredo. E ele sabia disso. E eu não sou cacique.

Mas o senhor vem de uma época em que o caciquismo, no Nordeste sobretudo, era que determinava. O seu partido...

MALUF: Não confunda. Como se eu fosse obediente ao meu partido... Eu me rebelei contra o meu partido nacionalmente. Contra o Geisel, o Figueiredo, o AI-5.

O candidato Geraldo Alckmin (PSDB) falou em criar a Secretaria de Segurança. Concorda?

MALUF: Não. A prefeitura está coalhada de cabides de emprego. Minha folha de pagamento era de R$100 milhões por mês. Hoje é de R$500 milhões. Se estão de acordo com isso, azar o de vocês, que vão pagar mais IPTU. Aumentou o cabide de empregos na lei que criou as subprefeituras, da Marta Suplicy (2001/2004).

O senhor vai demitir?

MALUF: No que precisar, a máquina vai ser enxugada.

A sua prisão, em 2005, foi seu maior constrangimento político?

MALUF: Não. Ao contrário. Quando olho minha prisão, vejo o seguinte: Washington Luís terminou o governo, foi preso e deportado. Getúlio, se não tivesse se suicidado, seria preso. Jânio Quadros foi preso. Juscelino foi preso, deportado. E vocês todos lembram mais que presidente foi preso? Lula.

Por razões políticas, todos.

MALUF: Minha prisão também foi política.

Por que a Justiça demorou tanto (40 dias) para analisar seu pedido de habeas corpus, diferentemente do que aconteceu agora com Daniel Dantas?

MALUF: Não! É que o advogado do dr. Dantas foi mais precavido do que o meu. Pediu um habeas corpus preventivo, que lhe permitiu queimar etapas. O que está acontecendo agora é espetáculo. Eu não gosto do Pitta, não falo com ele há dez anos. Mas pegar um indivíduo que foi prefeito de São Paulo, às seis horas da manhã, de pijama, algemar, como se a polícia fosse capitão do mato e ele fosse um escravo nojento? Eu cumprimento o Supremo por ter tirado o nepotismo e as algemas. Algema é para gente perigosa.