Título: Lula não quer susto na comissão
Autor: Pariz, Tiago; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 26/05/2009, Política, p. 03

Presidente exige que governistas ocupem a presidência e a relatoria da CPI da Petrobras. Para isso, teve conversa dura com Renan

Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo descartou abrir espaço para a oposição no comando da CPI da Petrobras. Ficou acertada a indicação de aliados confiáveis aos cargos de relator e presidente. Lula decidiu tomar as rédeas das discussões sobre o quadro de integrantes da comissão parlamentar de inquérito para evitar que a investigação saia dos trilhos e fique refém da agenda eleitoral de seus adversários.

Lula dedicou o dia a reuniões sobre as perspectivas da CPI. Encontrou-se primeiro com o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, o chefe da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, e o ministro da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage. Na sequência, fechou-se no gabinete reservadamente com o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL). Com o recado dado a Renan sobre a importância de saber todos os movimentos da comissão e não ficar à mercê de imprevistos, Lula abriu a porta para que o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e o vice-líder do governo no Senado, Gim Argello (PTB-DF), participassem da conversa.

A ideia de colocar um oposicionista na presidência da CPI veio do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Pela proposta, o comando da CPI ficaria com o senador Antonio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA). Mas José Múcio deixou claro o desinteresse com a iniciativa. ¿A minoria tem direito a pedir a CPI e a maioria tem direito de eleger o presidente e o relator. É o que sempre aconteceu no Senado¿, afirmou o ministro. Os nomes dos integrantes ainda devem ser indicados. Lula não quer que os escolhidos do PMDB sejam passíveis de uma eventual composição com a oposição.

Pressões O presidente está descontente com a atuação dos peemedebistas. Primeiro pelo desinteresse de Jucá quando a CPI estava ainda sendo gestada pela oposição. Segundo, por pressões do partido para trocar o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrela, por Paulo Roberto Costa, nome de confiança do partido, lotado na Diretoria de Abastecimento.

Para traçar o real cenário da ambição peemedebista por trás da CPI, Lula dedicou 40 minutos só a Renan. Múcio garantiu que não houve nenhuma cobrança pela mudança na direção da Petrobras. ¿Há uma preocupação para não haver nenhum embaraço para os investidores da Petrobras, porque não pode haver inibição dos investimentos. Esta é uma CPI importante, talvez a maior neste um ano e meio de governo que resta, por se tratar de uma das maiores empresas do Brasil¿, disse o ministro.

A preocupação é tanta que Lula quis discutir a motivação da criação da CPI, por isso convocou Hage. O ministro da CGU informou que não há nenhum problema por trás da estatal. ¿Na avaliação feita na reunião, se reafirmou que a Petrobras e o governo responderão a todos os questionamentos sobre os fatos determinados, até porque nada tem a esconder¿, disse Hage, lembrando que contratos da empresa vinham sendo acompanhados por CGU, Tribunal de Contas da União, além de auditorias internas da estatal. ¿As providências que tinham que ser tomadas já estão sendo encaminhadas¿, afirmou.

-------------------------------------------------------------------------------- A minoria tem direito a pedir a CPI e a maioria tem direito de eleger o presidente e o relator. É o que sempre aconteceu no Senado

José Múcio Monteiro, ministro de Relações Institucionais