Título: Lula quer bancos oficiais na ofensiva do crédito
Autor: Doca, Geralda; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 18/09/2008, Economia, p. 29

ABALO GLOBAL: Mantega diz que agricultura e exportações podem ser setores privilegiados com empréstimos

Presidente estuda deslocar dinheiro do FGTS para reforçar caixa do BNDES e estimular financiamento a empresário

Geralda Doca, Patrícia Duarte e Aguinaldo Novo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em entrevista à TV Brasil que, se for necessário, encontrará uma forma de aumentar o volume de recursos do BNDES para garantir a manutenção dos investimentos realizados pelo setor produtivo brasileiro. A medida, disse o presidente da República, será tomada em caso de escassez de crédito internacional causada pela crise do sistema financeiro americano.

- Se rarear o crédito internacional e os empresários brasileiros tiverem dificuldade para tomar dinheiro emprestado, nós vamos ter que tomar uma decisão de arrumar mais dinheiro para que o BNDES possa emprestar - enfatizou Lula, acrescentando que poderão ser usados recursos do FGTS para ampliar a carteira do banco.

- Não é que a gente não deva ter cuidado. Mas até agora as coisas estão andando bem, os bancos brasileiros não estão metidos no subprime, portanto é uma tranqüilidade para o Brasil. Mas todo cuidado é pouco - admitiu.

Lula afirmou que o Brasil está em uma situação privilegiada e garantiu que não é intenção do governo tomar medidas que inibam o crescimento da economia. Segundo ele, o Brasil pode crescer, em dez ou quinze anos, a taxas de 4% a 6%.

- É importante o povo brasileiro ter clareza de que nós não queremos, em hipótese alguma, brecar o crescimento da economia. Estamos com um mercado interno sólido, ele dá substância à nossa economia e nós queremos que continue fortalecido - disse Lula.

Pela manhã, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo pode tomar medidas para impulsionar o crédito destinado à agricultura e às exportações, caso ocorra escassez de recursos dentro do país. Mantega reconheceu que as empresas brasileiras que captam recursos no exterior estão tendo dificuldades, mas frisou que o problema se restringe ao mercado externo.

- Se faltar crédito para investimento, para a agricultura, para as exportações, o governo tomará medidas no sentido de supri-lo. Mas, por enquanto não há necessidade - disse o ministro.

Mantega destacou que a inflação está em queda e que a meta para o índice de preços neste ano será cumprida. O ministro também afirmou ter considerado adequada a decisão do governo americano de salvar a AIG com uma injeção de US$85 bilhões.

A posição de Lula em relação ao BNDES é a mesma para os demais bancos oficiais. Semana passada, em reunião com dirigentes das instituições, o presidente determinou que todos se preparassem para suprir uma maior demanda por crédito das empresas que atuam no Brasil.

O presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Fábio Barbosa - que também preside o Santander -, negou a existência de problemas de liquidez no mercado interno, mas admitiu que os prazos podem ficar mais curtos.

- Poderia ser diferente? Não existe falta de disponibilidade (de dinheiro para emprestar), mas um encurtamento de prazos é natural num período de incerteza.

Segundo ele, isso deverá ser mais percebido nas operações que dependem de financiamento externo, como de comércio exterior. Barbosa negou que linhas como o crédito consignado e financiamento de veículos novos possam ser afetadas pela crise, ao contrário do que acreditam analistas.

A Febraban anunciou ontem o lançamento de um código de auto-regulação do setor, que deverá entrar em vigor em janeiro. O código irá tratar dos assuntos que mais demandam reclamações nas centrais de atendimento dos bancos, como atendimento, encerramento de conta e segurança.