Título: Washington deita nos louros do acordo
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 31/10/2009, O Mundo, p. 26

Nova abordagem de Obama para a América Latina tem seu primeiro grande êxito

Correspondente

WASHINGTON. Ainda em sua viagem ao Paquistão, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, comemorou o acordo selado em Honduras dando parabéns ao presidente interino, Roberto Micheletti, ao presidente deposto, Manuel Zelaya, e ao presidente da Costa Rica, Oscar Árias, por seus esforços no caminho da construção de uma saída negociada para o impasse político que se arrastava desde junho.

Em Washington, no entanto, o sentimento é de que a solução hondurenha é a primeira grande vitória da nova abordagem diplomática do governo de Barack Obama para a América Latina.

Afinal, após anos sendo acusado de intervenções indevidas na região, o governo americano foi convidado a atuar no caso (ainda que discretamente) por muitos países da região depois que meses de conversas lideradas pela Organização dos Estados Americanos (OEA) resultaram em nada. Além disso, o acordo devolve à classe política hondurenha uma decisão sobre o futuro do país, evitando que o Departamento de Estado seja acusado de ter imposto uma ¿solução americana¿. As decisões se alinham à nova estratégia de engajamento e não intervenção do governo Obama para a região.

¿ Este é um grande passo para o sistema interamericano e seu compromisso com a democracia, como estabelecido pela Carta Democrática Interamericana. Estou muito orgulhosa por eu ter sido parte e que os EUA tenham sido instrumentais neste processo ¿ disse Hillary, que se envolveu no impasse na sexta-feira da semana passada, ao ligar para Micheletti e Zelaya pedindo uma solução e, mais tarde, enviando graduados diplomatas a Tegucigalpa.

Embaixador brasileiro destaca também papel da OEA Para Eric Farnsworth, vice-presidente do Council for the Americas, um instituto de estudos do continente, apesar de os EUA terem sempre sido acusados de ingerência indevida na América Latina, este episódio prova que o país ainda é indispensável para a região.

¿ O acordo vai desagradar a muitos que prefeririam que a situação permanecesse indefinida, especialmente em Caracas.

Mesmo quem é cauteloso quanto aos resultados obtidos em Tegucigalpa não deixa de enxergar os ganhos para Washington.

¿ Ainda que eu ache cedo para se comemorar o acordo, diante das desconfianças na elite hondurenha, é inegável o esforço de engajamento dos EUA neste caso ¿ afirmou Michael Shifter, vice-presidente do Inter-American Dialogue, outro influente instituto de estudos sobre as Américas.

O representante do Brasil na OEA, o embaixador Ruy Casaes, vê um papel decisivo tanto dos EUA como da organização.

¿ Há que se reconhecer que os EUA tiveram um importante papel na costura deste acordo, bem como a disposição da OEA de manter constante pressão sobre Tegucigalpa.

Os deputados republicanos de origem cubana Lincoln e Mario Diaz-Balart, que vinham apoiando o golpe e acusando Zelaya de querer repetir em Honduras o mesmo que Hugo Chávez faz na Venezuela, celebraram o acordo e a iniciativa americana: ¿O acordo é um extraordinário exemplo de maturidade política e de profundo respeito pela soberania do povo hondurenho¿, disseram os dois, num comunicado