Título: Depois do cochilo, a ofensiva
Autor: Pereira, Daniel; Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 29/05/2009, Política, p. 3

Governo tenta retomar relatoria da CPI das ONGs, perdida para os tucanos nas negociações da comissão parlamentar da Petrobras. Ideia é usar maioria, sufocar oposição e blindar Lula e Dilma. Inácio Arruda: governistas tentarão mostrar que o senador não abriu mão da relatoria das ONGs Após anunciar que controlará os cargos de comando da CPI da Petrobras, o governo traçou uma estratégia para retomar a relatoria da CPI das ONGs, considerada fundamental para blindar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, da ofensiva deflagrada pela oposição. Ontem, o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, disse a líderes aliados, durante um almoço, que o governo tem de impedir que tucanos e democratas usem as comissões para colher dividendos nas eleições presidenciais de 2010.

A palavra de ordem é fazer valer a maioria e sufocar os oposicionistas, inclusive na CPI do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), cujo requerimento de instalação já foi encaminhado à Secretaria-Geral do Senado. ¿A oposição sempre terá 27 assinaturas para pedir uma CPI, e nós sempre seremos e exerceremos a maioria. Vamos ditar os rumos das CPIs¿, disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), favorito para relatar a comissão da Petrobras. Além dele e de Múcio, participaram do almoço os líderes Renan Calheiros (PMDB-AL) e Gim Argello (PTB-DF). ¿Houve uma cochilada, mas está tudo sob controle¿, reforçou o ministro.

A cochilada em questão ocorreu na quarta-feira. Convocado para integrar o exército governista na CPI da Petrobras, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) teria aberto mão da relatoria da CPI das ONGs, já que o regimento interno da Casa proíbe um mesmo parlamentar de atuar como titular em duas comissões. Diante da suposta desistência do posto, o presidente da comissão, Heráclito Fortes (DEM-PI), nomeou o líder tucano, Arthur Virgílio (AM), substituto de Arruda, o que deu à oposição o controle dos cargos de comando da investigação parlamentar. A troca desagradou a Lula, que ontem pediu explicações a Múcio numa reunião no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

No encontro, o ministro avisou que os governistas já têm uma estratégia para reverter a situação. Na próxima terça-feira, apresentarão ao presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), uma questão de ordem. Alegarão que Arruda abriu mão só da titularidade na comissão. E acrescentarão que o comunista se manteve no colegiado como suplente, o que lhe dá o direito de permanecer como relator. A fim de dar força ao recurso, os aliados de Lula lembrarão que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) foi relatora da PEC destinada a prorrogar a CPMF, barrada em plenário, mesmo senado suplente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Solução Além disso, ressaltarão uma manifestação de Sarney em plenário, na qual ele diz que, em caso de um senador ser indicado como titular para duas comissões, caberá ao líder de seu partido ¿ e não ao presidente do colegiado ¿ resolver o caso. Antes do desfecho do embate jurídico, Heráclito Fortes formalizou ontem a substituição de Arruda por Virgílio. Só os dois oposicionistas participaram da audiência. O baixo quorum antecipa a estratégia dos aliados caso a questão de ordem fracasse. Os governistas boicotarão a CPI das ONGs, negando-lhe quorum e, assim, capacidade para trabalhar. ¿Vou mostrar que o governo não quer investigar esta ou aquela autoridade¿, reagiu Virgílio.