Título: Economia em alta, juro também
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 22/12/2009, Economia, p. 31

Com expansão do país, analistas já preveem aumento da Selic em abril

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO

Aforte recuperação da economia brasileira fez os analistas reverem suas projeções sobre quando o Comitê de Política Monetária (Copom) voltará a subir os juros básicos da economia (Taxa Selic), hoje em 8,75% ao ano. Agora, segundo pesquisa Focus do Banco Central (BC) divulgada ontem, as estimativas são de que a autoridade monetária fará o movimento em abril de 2010, e não mais em junho, mês que prevaleceu por algumas semanas. A pesquisa é feita semanalmente com cerca de cem instituições financeiras do país.

Pela mediana do levantamento, as apostas são que, além de mais cedo, o Copom vai aumentar mais os juros em 2010. Agora os analistas acreditam que a Selic fechará o próximo ano a 10,75%, e não em 10,63%. A perspectiva de crescimento econômico mais vigoroso em 2010 ¿ com projeções até acima de 5%, de acordo com a pesquisa ¿ aumenta as pressões sobre a inflação.

¿ Os dados de atividade econômica e as expectativas de inflação estão vindo mais fortes. E o que preocupa é o comportamento dos preços em 2011, porque o movimento de 2010 vai se fortalecer e pode chegar até o ano seguinte ¿ resumiu o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani, para quem a Selic voltará a subir em abril para encerrar o ano a 10,25%.

O BC vem mantendo a Selic inalterada em 8,75% desde julho, seu menor nível histórico.

O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, destaca que a demanda interna tem mostrado vigor.

O grande destaque é o consumo das famílias que, no ano que vem, deve crescer acima de 5%. Os investimentos seguirão o mesmo caminho e as projeções de expansão ultrapassam 15%.

Para este ano, segundo a pesquisa Focus, o freio esperado para a economia será um pouco menor, passando de 0,26% para 0,23%.

Quando se olha para 2010, o mercado continua projetando crescimento de 5%, mas não é difícil encontrar projeções de até 6%, como a do Itaú Unibanco.

Com o ritmo intenso da atividade, há o temor de que os preços subam pela demanda mais aquecida, pressionando a inflação.

Segundo o Focus, o mercado calcula que, este ano, o IPCA ficará em 4,29% e, em 2010, em 4,50% ¿ exatamente o centro da meta do governo para os dois anos.

Sobre balança comercial, a pesquisa indicou superávit de US$ 25 bilhões neste ano e, em queda livre, de US$ 11,30 bilhões em 2010. De acordo com dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, o saldo encerrou a terceira semana de dezembro positivo em US$ 224 milhões e, no ano, está positivo em US$ 23,798 bilhões.

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, afirmou ontem que o superávit deve ficar em torno de US$ 15 bilhões em 2010, numa queda em torno de 40% frente a este ano. O principal motivo, segundo ele, será a retração do comércio global.

¿ Nossa principal preocupação é em relação à queda do comércio global muito mais do que com a apreciação cambial.

Houve uma queda de 20% no comércio mundial ¿ disse.

Ontem, após abrir em alta, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou em queda de 1,3%, aos 65.925 pontos. Foi o quinto recuo seguido.

O dólar subiu 0,11% , para R$1,785. Nos EUA, a Bolsa de Nova York, avançou 0,83%. O Nasdaq, de empresas de tecnologia, subiu 1,17%, para 2.237 pontos, maior nível em 15 meses.