Título: Arruda diz que perdoou para ser perdoado
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Fonte: O Globo, 08/01/2010, O País, p. 8

Governador afirma que desculpou quem o "agrediu", para assim conseguir a absolvição pelos seus pecados

BRASÍLIA. O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), disse ontem que perdoa a quem o critica por causa do mensalão do DEM de Brasília. Em discurso durante a posse de diretores de escolas públicas, na sede administrativa do governo, na cidadesatélite de Taguatinga, Arruda pediu que o deixem trabalhar para que possa concluir, segundo ele, 2.034 obras em andamento.

¿ Quero dizer a vocês, de coração mesmo, que eu já perdoei a todos os que me agrediram. Eu perdoo a cada dia aos que me insultam, eu entendo as suas indignações pela força das imagens. E sabe por que eu perdoei? Porque só assim eu posso também pedir perdão dos meus pecados.

Dirigindo-se aos novos diretores e a servidores que assistiam à solenidade, o governador declarou que não está ¿alheio à crise política¿. Ele aproveitou o primeiro evento público de que participa, desde que o escândalo veio a público, para citar um bordão da época do mensalão do PT ¿ quando o jingle da campanha de reeleição do presidente Lula dizia: ¿Deixa o homem trabalhar¿.

¿ Se me deixarem trabalhar, e não vão deixar, quero este ano autorizar a construção de mais 120 salas de aula.

Quero autorizar a construção das 150 quadras de esporte cobertas nas escolas de educação integral ¿ discursou Arruda.

Acusado de comandar um esquema de pagamento de propina e compra de apoio de parlamentares da Câmara Legislativa, Arruda foi flagrado recebendo um maço de dinheiro durante a sua campanha a governador, em 2006. Quem lhe entregava o dinheiro era o então presidente da Codeplan, uma estatal do DF, Durval Barbosa.

Ao tomar posse, Arruda nomeou Durval secretário de Relações Institucionais.

O caso veio à tona com a operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. No vídeo, gravado por Durval, Arruda também pede um emprego para um filho e ajuda para a empresa de um assessor. Quando recebe o dinheiro, diz a Durval que seria melhor receber a quantia em sua residência e demonstra contrariedade em deixar o local com o pacote.

Mais tarde, pede ao motorista que carregue as cédulas.

Ontem, Arruda afirmou que a quantia teria sido declarada à Justiça Eleitoral: ¿ Há momentos, gente, em que por mais que você defenda a sua verdade, ela não é ouvida. Tento dizer há 40 dias que aquele dinheiro que recebi dois anos antes de ser governador foi registrado no Tribunal Regional Eleitoral. Não ouvem ¿ afirmou Arruda, confundindo as datas, uma vez que a cena foi gravada menos de um ano antes da posse.

Arruda admitiu que ¿deve¿ ter cometido erros, e disse que o tempo é senhor da razão. O governador afirmou que os últimos 40 dias, desde a eclosão do escândalo, serviram para reforçar a sua fé: ¿ Tudo o que eu peço é que reflitam sem as emoções do momento, com equilíbrio das pessoas sensatas, das pessoas vividas, e que eu possa, passados estes momentos difíceis, concluir todas as minhas obras. São 2.034, gente. Vão ser concluídas todas este ano, se Deus quiser. E aí, ao final do meu período de governo, eu poderei de cabeça erguida dizer que vivi a minha vida, lutei a minha luta e não perdi a minha fé.

Ao deixar o evento, Arruda ignorou perguntas sobre o mensalão do DEM, falando apenas sobre a posse dos diretores.

Na última terça-feira, o governador, aos risos, fez piada com o escândalo, ao dizer que atualmente é ¿culpado até da Mega-Sena¿, em reunião com seus secretários