Título: Vice assume, mas também está sob suspeita
Autor: Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 12/02/2010, O País, p. 10

Paulo Octávio foi citado diversas vezes por Durval Barbosa como beneficiário do esquema de corrupção

O vice-governador do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), que assumiu o governo após a prisão e o afastamento de José Roberto Arruda (ex-DEM), foi citado diversas vezes como beneficiário do mensalão do DEM, revelado pela Operação Caixa de Pandora. Num dos trechos do relatório do serviço de inteligência da Polícia Federal, o exsecretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa inclui Paulo Octávio entre os favorecidos com parte dos recursos desviados pela organização que seria chefiada por Arruda.

Durval fez acusações contra Paulo Octávio no dia 16 de outubro.

Ele informou à polícia que tinha R$ 178 mil, originários de propina, guardados em seu gabinete. Esse valor seria dividido por um grupo de pessoas indicadas por Arruda, sendo que 30% (R$ 53,4 mil) seriam repassados a Paulo Octávio, segundo Durval.

Durval também disse em depoimento ter entregue R$ 200 mil a Paulo Octávio. O ex-secretário afirmou que repassou a propina, ¿um pouco superior a R$ 200 mil¿, numa suíte do Hotel Kubitschek Plaza, um dos empreendimentos do vicegovernador na capital. Segundo Durval, o dinheiro foi recolhido da empresária Cristina Boner, proprietária do grupo de informática TBA, e repassado há mais de um ano e meio.

Teria sido a única vez em que ele entregou dinheiro pessoalmente a Paulo Octávio. Os depoimentos foram prestados ao Ministério Público Federal, no fim do ano passado. Paulo Octávio negou tudo.

Empresário reclamou de suposto apetite por propina Num vídeo gravado por Durval, o empresário Gilberto Lucena, dono da Linknet, reclamou das propinas cobradas pelo esquema montado no governo do DF. Lucena queixavase do apetite com que Paulo Octávio e Arruda avançavam nos ganhos de sua empresa: ¿É duro mais do que 4%, 5%! Me ajuda nisso aí¿. Lucena pediu intervenção de Durval para reduzir a propina. Em outro trecho, Durval fala de Paulo Octávio: ¿ O Paulo Octávio está cobrando! (...) Tá dizendo: ¿Ah! Não vai pagar primeiro para mim, não?¿ ¿ diz Durval.

O dono da Linknet afirma que uma parte foi paga, pois adiantou recursos para o secretário de Planejamento, Ricardo Pena. Num outro momento, Lucena disse que iria descontar dos pagamentos um adiantamento feito a Pena, mas Durval afirmou que ficaria difícil.

¿ E eu vou descontar isso de quem? Vou descontar do Paulo Octávio ... ¿ disse Durval.

Durval pede que o empresário faça prestação de contas.

¿ Vou fazer! Posso fazer! Olha, o Paulo Octávio tem quantos por cento disso aqui? ¿ pergunta Lucena.

¿ Tem 30% ¿ diz Durval.

Em dezembro de 2009, um outro vídeo voltou a levantar suspeitas sobre o envolvimento do vice com o esquema. Numa conversa gravada por Durval, um homem identificado como Marcelo Toledo cobrou repasse de recursos supostamente pedidos pelo vice-governador.

Segundo Toledo, o dinheiro para Paulo Octávio seria repassado a prefeitos que estariam em campanha eleitoral em 2008. O vídeo mostra Toledo entregando a Durval e Omézio Pires, assessor pessoal do governador José Roberto Arruda, um maço de notas de R$100 lacradas.

Na época, o advogado de Octávio disse que o vice não autorizou ninguém a falar em nome dele.