Título: R$ 274 bi para infraestrutura
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 22/02/2010, Economia, p. 16

Estudo do BNDES mostra alta de 37% nos investimentos entre 2010 e 2013

Os projetos de infraestrutura no Brasil devem receber R$ 274 bilhões em investimentos entre 2010 e 2013. É o que indica um estudo do BNDES, que leva em conta o total de aportes públicos e privados em andamento, planejados e com fortes chances de se concretizar, incluindo os que não terão financiamento do banco. Em comparação ao realizado entre 2005 e 2008 (R$ 199 bilhões em valores atualizados), o incremento será de 37,3% se tudo o que está planejado sair do papel, o que representa uma alta de 6,5% ao ano.

¿ Se essa expansão do investimento se concretizar, estaremos voltando ao patamar de elevação de antes da crise ¿ afirmou Fernando Puga, chefe do Departamento de Acompanhamento Econômico e Operações do BNDES.

Mas o estudo apresenta menos investimentos previstos do que o último levantamento feito pelo BNDES, para o período 2009-2012, que apontava desembolsos de R$ 338,5 bilhões em infraestrutura.

Parte do previsto em 2009 virá este ano

Puga explica que há diferenças metodológicas entre os dois levantamentos ¿ no anterior, os técnicos eram menos criteriosos e incluíram projetos ainda muito embrionários ¿ e que havia uma expectativa muito alta para os investimentos em 2009, principalmente na área de energia, com projeção de R$ 38 bilhões, por causa das usinas do rio Madeira.

¿ Ainda não temos fechados os dados de 2009, mas é bem provável que parte dos investimentos tenham ficado para 2010 ¿ disse Puga, acrescentando que a expectativa de investimentos para 2013 pode estar subestimada, pois deverá ser acrescida de obras para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio.

¿ Os investimentos em infraestrutura, até pelo caráter de longo prazo, se mantiveram, ao contrário do que vimos em outros setores, como as indústrias, principalmente nas voltadas à exportação, que sofreram com a crise ¿ acrescentou Gilberto Rodrigues Borça Júnior, gerente da área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico do banco.

Os dois executivos acreditam que a área de energia deve viver um novo grande ciclo de investimentos, enquanto a de telecomunicações, apesar de grandes volumes de recursos, tende a crescer de forma moderada. Os setores lideram as previsões de investimentos, de R$ 92 bilhões e R$ 67 bilhões, respectivamente, entre 2010 e 2013.

Puga afirma que, nos dois segmentos, há muita certeza de concretização dos investimentos, pois os projetos são de longo prazo ou são investimentos obrigatórios, devido aos planos de concessão. Entretanto, o setor cujos investimentos mais devem crescer, segundo o estudo, é o de portos, que passará de R$ 5 bilhões entre 2005 e 2008 para R$ 14 bilhões ¿ um incremento de 203%.

¿ Isso demonstra não apenas um maior interesse do governo no setor, com o programa nacional de dragagem, como também um maior interesse da iniciativa privada, depois do novo marco regulatório ¿ disse Borça.

Mais aporte privado em saneamento

As ferrovias também tendem a ter um forte incremento, passando de R$ 16 bilhões para R$ 29 bilhões.

Além de grandes obras, o projeto do trem-bala amplifica esses números.

Mas, segundo Puga, uma das áreas que passa por maior transformação é saneamento. Foram R$ 22 bilhões investidos entre 2005 e 2008, e o setor poderá ter R$ 39 bilhões nos próximos quatro anos.

¿ Antes, a quase a totalidade destes investimentos eram públicos, mas agora vemos que há, cada vez mais, empresas privadas entrando no setor.

Acreditamos que neste novo ciclo as empresas privadas respondam por 40% dos investimentos ¿ afirmou.

O estudo também aponta os principais fatores críticos de cada setor ¿ que podem atrasar, inibir ou até incentivar investimentos. Nas áreas de transportes, estão a intenção dos governos federal e de São Paulo em fazer novas concessões e o trem de alta velocidade. Nos portos, uma questão é a consolidação do novo marco regulatório.

Em energia, são os licenciamentos ambientais de grandes projetos, incluindo hidrelétricas, a usina nuclear de Angra 3 e uma série de projetos de geração eólica. Em telecomunicações, há novas tecnologias a se consolidar: o 3G, o WiMax (banda larga sem fio) e a TV digital.