Título: Arruda é suspeito de produzir dossiês
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 28/02/2010, O País, p. 11

Adversários, como o ex-governador Joaquim Roriz, seriam alvo de espionagem

BRASÍLIA. A máquina de espionagem supostamente montada pelo governador afastado José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) não se limitou a vazar informações sobre operações sigilosas do Ministério Público contra fraudes em áreas estratégicas do governo local. Investigadores do caso suspeitam que o esquema supostamente formado por setores da Polícia Civil também estava escalado para produzir dossiês contra adversários políticos do governador, como o ex-aliado Joaquim Roriz.

Trechos do dossiê contra Roriz constam de um relatório sobre as ações sigilosas do Ministério Público apreendido pela Polícia Federal, na Operação Caixa de Pandora.

No documento, destinado a Arruda, o chefe da espionagem faz um relato sobre o andamento do inquérito em que Roriz é acusado de receber R$2,2 milhões do empresário Nenê Constantino, um dos donos da Gol Linhas Aéreas, em troca da mudança de destinação de um valioso terreno em Brasília. Por conta das denúncias, Roriz renunciou ao mandato de senador em julho de 2007 e, a partir de então, o inquérito passou a ser conduzido pela Divisão de Crimes Contra a Administração Pública (Decap), da Polícia Civil, e pelo Ministério Público local.

"O inquérito policial sobre o cheque de Roriz está sendo conduzido pela Decap e tem vasto material para ser analisado (sigilo bancário e fiscal), contudo certamente irá comprovado que o valor refere-se à propina, possivelmente na mudança de destinação de área do Park Shopping", avisa o espião.

Segundo os investigadores, Arruda queria o inquérito concluído ainda este ano, antes das eleições. Em segundo lugar nas pesquisas de opinião, Roriz era, até então, o principal adversário político de Arruda.

No relatório, o araponga faz referência ao suposto envolvimento do senador Gim Argelo (PTB-DF) no caso. Gim ocupou a vaga de Roriz no Senado. "O Gim Argelo está envolvido também na investigação", diz o espião. No texto, o informante ainda faz relatos sobre outras grandes operações sigilosas do Ministério Público, conforme mostrou o GLOBO no último dia 14.

As investigações sobre a espionagem foram abertas por determinação do procurador-geral da República Roberto Gurgel. O procurador é o autor do pedido de prisão de Arruda e de intervenção do governo federal no Distrito Federal.

- Usar policiais civis neste tipo de coisa, por si só, já justificaria a intervenção federal - disse um dos promotores que acompanha as investigações.