Título: Com ânimos exaltados, polêmica das cotas é debatida no Supremo
Autor: Éboli, Evandro; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 04/03/2010, O País, p. 15

Advogada é chamada de racista ao se mostrar contra a adoção da medida

BRASÍLIA. O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou ontem uma série de três audiências públicas para discutir a adoção de cotas raciais nas instituições federais de ensino superior. Oradores a favor e contra as cotas se alternaram nas exposições. Presente à audiência, o ministro do STF Joaquim Barbosa deu sinais de contrariedade com os discursos contra as cotas e demonstrou simpatia pelo sistema.

- É uma tentativa de inserção consequente de minorias no sistema produtivo e educativo do nosso país - afirmou Barbosa.

A advogada do DEM, Roberta Kaufmann - partido que questionou na Justiça a adoção de cotas na Universidade de Brasília (UnB) - chegou a ser chamada de racista por militantes da sociedade civil favoráveis às cotas, e que acompanharam a audiência num telão do auditório do STF.

O presidente do Supremo, Gilmar Mendes, frisou que o tema é polêmico.

- É uma das questões talvez mais controvertidas do atual estágio do nosso desenvolvimento constitucional.

O ministro da Secretaria de Políticas de Igualdade Racial, Edson Santos, defendeu as cotas em nome do governo. Mencionou a perversidade da escravidão e a falta de políticas públicas de inclusão social e econômica dos ex-escravos, após a abolição.

- É preciso que o Brasil faça um reencontro com a sua história. O quadro de desigualdade no Brasil estampa uma tragédia - afirmou Santos.

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) - que sugeriu ao seu partido entrar com a ação - disse que os números de pretos e pardos no Brasil são manipulados para dar a impressão de que a maioria da população é negra. Disse que há um "golpe estatístico". Ao falar sobre o atendimento a negros na saúde pública, disse:

- Será mesmo que uma mulher negra não consegue realiza uma tomografia computadorizada no SUS?