Título: Stephanes: trigo mais caro é terrorismo
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 10/03/2010, Economia, p. 23

Ministro critica Abitrigo por prever aumento com alíquota maior para os EUA

BRASÍLIA e RIO. O governo reagiu duramente, ontem, às declaraçõesda Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) de que ospreços ao consumidor de farinha de trigo, massas e pães vão subir, casoa tarifa de importação de trigo avance de 10% para 30%, se o produtofor oriundo dos EUA. Ao divulgar o sexto levantamento da safra2009/2010, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, classificou aprevisão como "terrorismo":

- O custo do trigo no pãozinho varia de 10% a 16%. Com a restriçãode 5%, que é quanto compramos dos EUA, aumentaria em 16%? É terrorismo- afirmou Stephanes. - Já tem gente querendo ganhar dinheiro à custa deuma dada situação.

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, disse ter ficadosurpreso com a avaliação dos moinhos. Para ele, o aumento das alíquotasde importação dos 102 itens, divulgado na última segunda-feira, nãotrará prejuízos nem ao consumidor nem à indústria nacional.

- Os EUA não são nossos principais fornecedores de trigo. As importações de lá são mínimas - disse ele.

Safra deve alcançar 143 milhões de toneladas

Técnicos da área de comércio exterior informaram que, no primeirobimestre deste ano, o trigo dos EUA representou apenas 5% do totalimportado pelo Brasil. A maior parte, ou 71%, veio da Argentina. Ogoverno disse ainda que, se necessário, o Brasil pode contar com oproduto de Canadá, Rússia e União Europeia.

Para Alexandre Pereira, presidente da Associação Brasileira daIndústria da Panificação e Confeitaria (Abip), o preço do pãozinho nãosubiria com o aumento da taxa ao trigo americano, pois o setor dependepouquíssimo do trigo dos EUA.

- Foi uma declaração precipitada - avaliou.

Segundo o sexto levantamento da safra 2009/2010, feito pelaCompanhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de trigo esteano deve ficar em 5,026 milhões de toneladas, cerca de metade doconsumo anual do país. Assim, o restante precisa ser importado. A safratotal de grãos foi estimada em 143,094 milhões, recorde histórico.(Eliane Oliveira e Fabiana Ribeiro)