Título: Bom caminho
Autor:
Fonte: O Globo, 27/03/2010, Opinião, p. 6

Desequilíbrios cambiaisforam, no passado, fonte de muitas crises graves na economiabrasileira. Por conta disso, as regras relativas ao câmbio no país sãogeralmente restritivas.

Mas há alguns anos que a economia brasileira é superavitária:recebe mais do que remete divisas. A dívida externa se reduziu comoproporção do Produto Interno Bruto (PIB), especialmente o endividamentopúblico, que era o mais vulnerável. Em contraponto, as reservas noBanco Central atingiram um volume jamais imaginado (mais de US$200bilhões).

O fluxo de investimentos diretos no país tem sido suficiente parafinanciar compromissos da economia brasileira no exterior, entre osquais um crescente volume de inversões, lá fora, de companhias sediadasno Brasil. No médio prazo, a tendência é de equilíbrio estrutural nasfinanças externas, até com a possibilidade de acumulação de divisas emfunção do saldo das exportações de alguns produtos, como petróleo ederivados, o que motivou a formação de um fundo soberano.

A apreciação do real tem inibido a exportação de manufaturados,devido, principalmente, a uma competição desigual com a China e outraseconomias que mantêm regimes de câmbio artificiais. Seria um enormeretrocesso se o Brasil também voltasse a recorrer a artifícios paradepreciar o real. O regime de câmbio flutuante, com todas as críticasjá feitas, ainda se revela como o sistema mais adequado para umaeconomia como a brasileira, mais beneficiada do que prejudicada por umambiente de abertura.

Cabe então se aperfeiçoar o regime de câmbio flutuante, e nessesentido é bem-vinda a iniciativa do Banco Central de simplificar suasnormas em relação a transações com moedas estrangeiras.

As regras restritivas hoje contribuem para uma apreciaçãoindesejável do real. A liberalização, por sua vez, levará a umequilíbrio. Quando o real se mostrar temporariamente sobrevalorizado,empresas que têm créditos no exterior não precisarão converter taisrecursos em moeda nacional, imediatamente. Poderão esperar por umaoportunidade de mercado que lhes seja mais favorável. Um avanço.