Título: Riscos de não haver competidores privados
Autor: Damé, Luiza; Oliveira, Eliane; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 09/04/2010, Economia, p. 27

SÃO PAULO. A aposta do governo de que haverá pelo menos dois consórcios disputando o leilão de Belo Monte, carrega uma boa dose de risco. Mesmo no consórcio liderado pela Andrade Gutierrez, e que tem a participação da Vale, da Votorantim e da Neo Energia, não há ainda uma conclusão sobre o real custo de construção da usina, estimado em R$19 bilhões pelo governo. É o valor acertado para o contrato de construção - o Engineering Procurement and Construction (EPC), no jargão das empreiteiras - que irá definir se a tarifa-teto estabelecida para o leilão, de R$83 o megawatt-hora, é economicamente viável para os investidores fazerem uma oferta no leilão.

- Há uma negociação em curso entre a Andrade e os parceiros do consórcio, mas não está preto no branco - disse uma fonte próxima às empresas, que preferiu manter-se anônimo. - Tudo vai depender dos próximos dias, e não está descartada a hipótese de não haver competidores.

Mário Menel, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), que reúne grandes empresas consumidoras, destaca que o projeto implica dois níveis de risco distintos aos investidores: o dos custos das obras dos canais, que é de difícil projeção, e os custos socioambientais:

- Nenhum investidor entra no leilão com o valor do investimento em aberto, fixando um nível de receita (definido pelo lance para a tarifa de energia), não sabendo quanto vai gastar.

Apontado como principal integrante de um novo consórcio que estaria em gestação para disputar Belo Monte, o grupo Bertin divulgou nota ontem dando a entender que pode mesmo entrar na disputa. "Por ter definido as áreas de energia e de infraestrutura como suas prioridades para os próximos anos, tem estudado diversas opções de investimento e, quando houver decisões tomadas, irá comunicá-la ao mercado", diz o comunicado.

Depois de vender suas operações no setor de carnes e couro para a JBS, a Bertin tem investido no setor de energia. Em 2008, com a Equipav, a empresa venceu leilão para construção de 21 termelétricas até 2013. Entre o início do próximo ano e 2013 terá de concluir a construção de 11 dessas usinas.

A construtora Queiroz Galvão, também citada como parceira da Bertin, disse que "compareceu à chamada pública da Eletrobras", mas não que integre algum consórcio no momento.

O empresário Benjamin Seinbruch, controlador da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), confirmou ontem o interesse no leilão. Ele disse que analisa a possibilidade de participar da disputa com outros investidores, e não vê risco com a saída de Odebrecht e Camargo.

- De certa forma isso era esperado. Eu não acredito que a saída das duas empresas prejudique a continuidade do processo. Na CSN, estamos estudando o processo e a possibilidade de participar do leilão - afirmou, confiante na capacidade do governo de vencer as dificuldades para tirar a obra da usina do papel. - A usina é uma necessidade. É só olhar para o Brasil e ver que precisamos de energia, precisamos de muito mais energia.