Título: Lula diz que não vê hipótese de derrota do PT
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Fonte: O Globo, 10/05/2010, O País, p. 4

Em entrevista ao espanhol "El País", presidente dá como certa vitória nas eleições de outubro e critica a ONU Em entrevista publicada na edição de ontem do jornal espanhol ¿El País¿, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não vê possibilidade de que o PT perca as eleições deste ano. Segundo ele, porém, qualquer um que seja vencedor não ¿fará nenhum disparate¿.

¿ Ganhe quem ganhar, ninguém fará nenhum disparate.

O povo quer seguir caminhando e não voltar para trás. Mas deixe-me dizer que não vejo a possibilidade de perdemos as eleições ¿ afirmou Lula.

Questionado se uma possível vitória da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, não seria, na verdade, mérito dele próprio, o presidente afirmou não acreditar em lulismo¿: ¿ Sei que muita gente, para se justificar, diz que não gosta do PT, mas gosta do Lula. (...) Mas não creio que haja um lulismo como tal.

Prefiro saber que fortaleceremos a democracia e que os partidos políticos se organizarão e serão fortes.

A reportagem fala da trajetória política do presidente e da criação do PT. E lembra que, como o país está em campanha eleitoral, Lula aproveita para fazer propaganda do partido. De fato, o presidente afirmou na entrevista que poucas vezes na história do Brasil aconteceram coisas tão importantes como em seu governo. Mas lamentou não ter feito algumas das reformas a que se propôs.

¿ Do momento em que tomamos uma decisão até executá-la topamos com 500 obstáculos que encontramos em nome da democracia. (...) Passam-se dois anos e meio ou três antes que um projeto se cristalize. Precisamos de um consenso que nos permita eliminar tantas dificuldades e atrasos.

Lula garantiu que, quando deixar a Presidência, ficará em silêncio e deixará quem ganhar as eleições governar. Disse ainda que quer ¿compartilhar¿ o conhecimento das ¿políticas públicas bem-sucedidas¿ do seu governo com países mais pobres da América Latina e da África.

Ao falar de política externa, fez críticas à ¿pouca representatividade¿ da ONU.

¿ Por que o Brasil não é membro do Conselho de Segurança? E a Índia? Por que não há nenhum Estado africano? Se a ONU continuar assim, frágil, sem representatividade, com países com poder de veto, nunca vai servir adequadamente à governança global que se precisa.

Além disso, Lula falou sobre as possíveis sanções ao Irã por seu programa nuclear, afirmando que, para ele, os limites estão nas decisões da ONU.

¿ Quero esgotar até o último minuto as possibilidades d u pacto com o presidente do Irã para continuar o enri quecimento de urânio.

Lula falou ainda da relação com a América Latina e descreveu o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, como ¿um homem muito inteligente, mas que, às vezes, comete equívocos¿.

¿ Temos que gerar uma política de confiança. A doutrina utilizada pelas grandes potências era considerar o Brasil como inimigo da América Latina, a grande ameaça. Nós estamos destruindo essa visão negativa e demonstrando, em troca, que podemos ser um grande aliado.

Além da entrevista, o jornal listou alguns dos aspectos positivos e negativos do governo Lula e ponderou que, apesar do carisma e da popularidade, o presidente coleciona críticas. Entre os positivos, aponta a queda dos índices de pobreza. Entre os negativos, cita as denúncias de corrupção nos círculos próximos ao presidente.