Título: Hillary considera inadequada a proposta do Irã
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Fonte: O Globo, 26/05/2010, O Mundo, p. 33

Em Pequim, secretária aponta deficiências no acordo turco-brasileiro; França e Reino Unido endossam críticas PEQUIM. Enquanto o Irã deixa claro que a carta enviada à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) é sua última concessão rumo a um entendimento sobre seu programa nuclear, em Pequim, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou ontem que o documento que estabelece os termos mediados por Brasil e Turquia para a troca de combustível nuclear é inadequado.

Após reunir-se com presidente chinês Hu Jintao, Hillary manteve o tom ríspido e classificou a iniciativa iraniana como uma manobra transparente para evitar a iminente quarta rodada de sanções econômicas a Teerã.

Na Europa, França e Reino Unido fizeram coro à secretária.

Há uma série de deficiências que não respondem às preocupações da comunidade internacional disse ela, sem detalhar quais seriam as falhas.

Hillary disse ter debatido a proposta de sanções com o presidente chinês e criticou o fato de o país insistir em continuar enriquecendo urânio em suas próprias instalações nucleares, mesmo diante do acordo para enviar parte de seu material físsil 1.200 quilos à Turquia.

Segundo ela, até potências tradicionalmente contrárias a sanções, como Rússia e China, concordam que o acordo não resolve o impasse.

Há um reconhecimento de parte da comunidade internacional de que o acordo fechado em Teerã na semana passada entre Irã, Brasil e Turquia só aconteceu porque estávamos às vésperas de divulgar a proposta de resolução que estávamos discutindo há várias semanas disparou Hillary.

Em Buenos Aires, o chanceler Celso Amorim rebateu as críticas de que a proposta deveria ter sido mais ambiciosa do que a apresentada pela AIEA em outubro, pois, de lá para cá, o Irã teria tido tempo de elevar seus estoques de urânio.

Não passou tanto tempo assim para que o Irã enriquecesse urânio afirmou.

Lula envia cartas pedindo apoio a líderes mundiais O governo de Teerã não reagiu às declarações. Mas, na TV estatal Irib, comentaristas iranianos classificaram a postura americana de precipitada: Apesar do silêncio de oficiais da AIEA que ainda não comentaram a proposta França e Reino Unido fizeram ontem coro às reivindicações de Hillary.

Em Londres, o novo primeiroministro britânico, David Cameron, defendeu claramente punições ao governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

É hora de aumentar a pressão e impor sanções, até porque o calendário é curto. Meu governo tem o claro objetivo de garantir mais força na ONU e na União Europeia para a aplicação de sanções afirmou.

O governo da França, através do porta-voz da chancelaria, Bernard Valero, disse que dará uma resposta após consultas com Rússia e EUA, mas apontou como problemático o fato de o Irã ter continuado a enriquecer urânio desde outubro, quando foi feita a proposta original de troca de combustível.

O representante iraniano na AIEA, Ali Ashgar Soltanieh, deu sinais de ceticismo quanto à aceitação do documento.

Até que esse combustível esteja de volta, no centro do reator, não estamos seguros que (a troca) vá acontecer disse Soltanieh à rede britânica BBC. Espero que o grupo de Viena agarre essa oportunidade única de negociar detalhes técnicos.

A exemplo do que fez o primeiroministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan , o Itamaraty revelou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta ao presidente americano, Barack Obama, insistindo na defesa do diálogo como solução para o impasse nuclear. Ontem, Lula fez o mesmo num comunicado aos presidentes da Rússia, Dmitri Medvedev, e da França, Nicolas Sarkozy. Ontem, Amorim explicou a iniciativa: França e Rússia, por estarem diretamente envolvidos na produção de urânio enriquecido, e os EUA estão à frente das negociações. O Brasil não tem a menor vergonha de ter negociado.

O que o Brasil fez foi tentar.

Sabemos que esse acordo não resolve todos os problemas. É uma questão muito ampla, mas é um começo disse.