Título: Protesto pela paz no trânsito
Autor: Bernardes, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 19/06/2009, Cidades, p. 21

Aceitar a morte e tocar a vida adiante é um longo caminho para as vítimas da imprudência de quem optou por beber e achou que estava bem para dirigir. A superação da perda se torna ainda mais difícil quando paira a sensação de impunidade. Na tarde de ontem, cerca de 50 pessoas escolheram a Catedral Metropolitana ¿ cartão-postal de Brasília ¿ para pedir paz no trânsito e, principalmente, justiça.

Vestidas de branco, elas rezaram e trocaram experiências. ¿Não vou descansar enquanto não se cumprir a lei. Quero ver a pessoa que arrancou meu amor de mim ser julgada¿, desabafa Camila Aparecida Martins, 24 anos, que perdeu a filha Yasmin, 5, em 23 de maio deste ano. A menina foi atropelada por Ítalo Pinheiro de Almeida, 26, que admitiu ter bebido. ¿Vim pedir por justiça, que é só o que faço há um ano e oito meses¿, conta Luiz Cláudio Vasconcelos, 52, uma das vítimas da tragédia na Ponte JK. Em outubro de 2007, o Golf dirigido por Paulo César Timponi, 51, bateu, em alta velocidade, no Corolla guiado por Luiz Cláudio. A colisão resultou na morte de três mulheres que estavam no Corolla ¿ a mulher de Luiz, a cunhada e uma amiga. ¿Três famílias foram destruídas¿, relembra.

O protesto foi organizado pelo servidor público Franklin Costa, 50, pai de Pedro, que faria 17 anos ontem. O jovem morreu atropelado na avenida W3 Sul, no último dia 6, quando ia para a escola. ¿Não é o sentimento de vingança que nos une, mas sim a dor e a vontade de que os responsáveis sejam punidos.¿

Também estiveram no local representantes do Pro-vítima, programa do GDF que oferece atendimento psicológico, jurídico e assistencial às famílias que sofreram algum trauma, no trânsito ou não. ¿Acompanhamos todo o processo e tentamos ajudar essas pessoas, que chamamos de vítimas invisíveis¿, explica Valéria Velasco, que coordena o Pro-vítima, cujo telefone é 3905-1434.

Obrigatoriedade Apesar de ver avanços na legislação, a promotora de Justiça Laura Beatriz Rito, da Promotoria de Delitos de Trânsito de Brasília, aponta três falhas que dificultam a punição do motorista infrator. Para ela, a lei deveria tipificar como homicídio ou lesão corporal dolosos (quando assume-se o risco de matar) os casos em que o condutor está alcoolizado. ¿Do jeito que a lei ficou, depende do entendimento de cada delegado, promotor ou juiz. Casos parecidos com interpretações diferentes da lei resultam em punições mais ou menos brandas¿, explica. Outra mudança proposta é tornar obrigatório o teste do bafômetro. Por fim, a promotora sugere que a lei permita outras provas, além do bafômetro e do exame sanguíneo, para enquadrar o motorista no crime de dirigir alcoolizado.