Título: Brasil e Argentina: é uma briga de segundo escalão, diz Marco Aurélio
Autor: Ribeiro, Fabiana ; Yanakiew, Monica
Fonte: O Globo, 28/05/2010, Economia, p. 36

Disputa por importações de alimentos, no entanto, pode chegar a presidentes

RIO e BUENOS AIRES. O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que a discussão entre Brasil e Argentina refere-se a uma "medida isolada de um funcionário de segundo escalão", que não afetará as relações entre os dois países. Para ele, é possível resolver a questão via negociação.

-- As medidas serão evocadas, mas sem ânimo de confrontação. Rivalidade com a Argentina só no futebol.

Garcia admitiu, contudo, a possibilidade de haver um retardamento na concessão de licenças de importação de produtos argentinos.

- Isso não se configura uma guerrilha, menos ainda uma guerra de posições - disse Garcia, que esteve ontem no III Foro Brasil União Europeia, no Rio.

Funcionários do governo argentino minimizaram a "guerra comercial" com o Brasil, que há duas semanas mobiliza empresários, diplomatas, ministros e pode chegar aos presidentes Cristina Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontrarão hoje no Rio.

Ontem, o ministro do Interior argentino, Florencio Randazzo, admitiu que existe um "conflito de interesses" entre os dois países e que a Argentina tem, como política, defender seus produtores e trabalhadores. Mas tanto ele, como a ministra da Indústria e Comércio, Debora Giorgi, negaram que houvesse travas as importações do Brasil.

- Travas formais não existem. Ninguém colocou uma proibição no papel, daí o problema. O que existe é uma "sugestão", por parte do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, aos supermercados de deixar de comprar lá fora produtos alimentícios que podem ser produzidos aqui. Quem não quer ter problemas com o governo, prefere aceitar a recomendação, temendo represálias - explicou o economista Mauricio Claveri, da consultoria Abeceb.

A Abeceb, aliás, fez um estudo demonstrando que a Argentina tem mais a perder, caso o Brasil resolva aplicar retaliações, como insinuou anteontem o secretário do Comércio do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Welber Barral. Pelos cálculos da consultoria, se a Argentina de fato restringisse as importações de produtos alimentícios do Brasil economizaria US$81 milhões. Em compensação, as retaliações brasileiras poderiam afetar US$351 milhões das vendas argentinas.