Título: Brasil pede ação da ONU e condena ataque em águas internacionais
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Fonte: O Globo, 01/06/2010, O Mundo, p. 26

Governo convoca embaixador israelense a prestar esclarecimentos

BRASÍLIA. O governo brasileiro condenou ontem o ataque às embarcações de ajuda humanitária e convocou o embaixador israelense no país, Giora Becher, a prestar esclarecimentos sobre o episódio ¿ um gesto que denota descontentamento diplomático. O Itamaraty informou ter recebido a notícia com ¿choque e consternação¿. Cobrou investigação independente do caso e defendeu o fim do bloqueio imposto à Faixa de Gaza para garantir a liberdade de locomoção e o acesso a produtos básicos, como alimentos e remédios.

¿O Brasil condena, em termos veementes, a ação israelense, uma vez que não há justificativa para intervenção militar em comboio pacífico, de caráter estritamente humanitário. O fato é agravado por ter ocorrido, segundo as informações disponíveis, em águas internacionais¿, justificou, em nota divulgada à tarde, o Ministério das Relações Exteriores.

O chanceler Celso Amorim reforçou, mais tarde, o teor do comunicado. Em entrevista, afirmou que o Brasil espera uma declaração forte do Conselho de Segurança da ONU.

¿ É até difícil colocar palavras numa nota, porque as palavras ficam gastas. Ficamos mais do que chocados com um evento desse tipo.

Trata-se de pessoas pacíficas que não significavam nenhuma ameaça e que realizavam uma ação humanitária, que não seria necessária se terminasse o bloqueio a Gaza. É necessário algum tipo de ação da ONU. Vai ficar uma marca muito forte ¿ disse o ministro, acrescentando que, com ações ¿intempestivas¿ como a de ontem, não será possível um caminho pacífico.

Ele explicou que a condenação ao ataque foi acertada com o presidente Lula.

O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, ressaltou que o caso fortalece a posição brasileira de defender o diálogo para a solução de problemas no Oriente Médio: ¿ O presidente, ainda na sexta-feira, no Rio, disse algo que me parece importante escutar: ¿É chegada a hora da paz, porque a paz faz calar as armas¿. Portanto, se se insistir em resolver os complexos problemas daquela região pela via das armas, e não pela via da negociação, os resultados vão ser esses: conflitos, mortes e, sobretudo, mortes que vão tocar pessoas que não têm nada a ver com o enfrentamento.

Embaixador palestino defende sanções econômicas e diplomáticas O embaixador israelense se reuniu à tarde com a subsecretária-geral de Assuntos Políticos, embaixadora Vera Lúcia Barrouin Crivano Machado. Ele sustentou que as embarcações não seguiam em missão humanitária, mas com o objetivo de provocar as tropas israelenses, em apoio ao Hamas. Conforme sua versão, os líderes do comboio não aceitaram a proposta de entregar as mercadorias no porto de Ashdod, de onde seguiriam para Gaza após inspeção. Os soldados teriam sido atacados primeiro ao embarcar ¿pacificamente¿ na flotilha. Por isso, teriam reagido.

O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben, classificou a ação de ¿criminosa¿. Ele defendeu sanções econômicas e diplomáticas para que Israel respeite o direito internacional.

¿ É um ataque a mais. O mundo precisa se mover para pôr fim a essas atitudes irresponsáveis, criminosas contra o povo palestino.

Há mais de 60 anos somos objeto de crimes de limpeza étnica, destruição de casas, genocídio ¿ lamentou o embaixador palestino.