Título: Da Satiagraha para o Ministério da Justiça
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 13/07/2010, O Pais, p. 12

Delegado da PF que chefiou operação cuidará de recuperação de dinheiro desviado para o exterior

BRASÍLIA. O secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovay, convidou o delegado da PF Ricardo Saadi para chefiar o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI). Chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da PF em São Paulo, Saadi se tornou conhecido depois de comandar as investigações da Operação Satiagraha, após o afastamento do delegado Protógenes Queiroz do caso. Saadi é considerado, dentro da polícia, como um dos principais especialistas do país em repressão a lavagem de dinheiro.

Saadi deve assumir o cargo até sexta-feira. A escolha do delegado para o comando do DRCI representa uma vitória da direção da PF numa antiga queda de braço pelo controle do órgão. A PF reivindica para si o comando do departamento com o argumento de que o DRCI seria, na verdade, uma interface internacional da própria polícia. A maioria dos processos de recuperação de dinheiro desviado para o exterior tem como origem investigações da PF e do Ministério Público Federal.

O controle do DRCI foi, aliás, um dos focos de tensão entre delegados da cúpula da PF e o ex-secretário Romeu Tuma Júnior. Tuma Júnior foi afastado do cargo após divulgação de trechos de conversas que teve com o chinês Li Kwok Kwen, o Paulo Li, preso por contrabando. Nas conversas, gravadas pela PF com autorização judicial, Tuma Júnior e Paulo Li falavam sobre celulares, videogame e câmera fotográfica. O caso ainda está sendo investigado pela PF.

Saadi se notabilizou na segunda etapa da Satiagraha, investigação sobre o banqueiro Daniel Dantas, em 2008 e 2009. No auge do caso, o ex-ministro da Justiça Tarso Genro chegou a dizer que Saadi estava corrigindo falhas estruturais deixadas no inquérito da Satiagraha pelo antecessor. A partir dos indícios apontados por Saadi, o MPF em São Paulo denunciou Dantas em julho do ano passado por lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta de instituição financeira, evasão de divisas, e crime de quadrilha e organização criminosa.