Título: Pearson compra o SEB. Morgan Stanley operou com ações antes do anúncio
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 23/07/2010, Economia, p. 35

Corretora que comprou e vendeu papéis é do grupo que intermediou fusão

Um dia antes do grupo britânico Pearson divulgar a compra da divisão de ensino do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), a corretora Morgan Stanley comprou e vendeu R$4,68 milhões de units (certificado de ações) da empresa brasileira, que subiram ontem 46,2% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Foi uma transação entre clientes institucionais da corretora, envolvendo um volume atípico de 240 mil papéis da empresa. A corretora pertence ao mesmo grupo do banco Morgan Stanley, que assessorou o SEB durante as negociações com o Pearson.

O volume de negócios que a corretora realizou com papéis do SEB foi quatro vezes maior que o volume médio diário dessas units neste ano, de R$1,2 milhão por dia. Na quarta-feira, dia da transação na bolsa, nenhuma informação sobre a empresa foi divulgada. As units que foram compradas R$19,50 anteontem valiam R$28,80 ontem, após o anúncio da venda da divisão.

Corretora afirma que operação foi corriqueira

O movimento atípico levantou suspeitas sobre um possível vazamento de informações. A Comissão de Valores Mobiliários informou em nota que ¿acompanha e analisa as informações e notícias relativas às companhias abertas e adota as medidas devidas quando necessário¿.

O diretor da corretora Morgan Stanley, Álvaro Marangoni, disse que a empresa apenas fez a ponte entre um cliente que queria comprar ações do SEB a outro quer queria vender ações da empresa:

¿ Somos uma corretora que opera exclusivamente para clientes. Nosso papel foi reunir um comprador e um vendedor, algo corriqueiro ¿ acrescentou.

O diretor afirmou ainda que o banco e a corretora Morgan Stanley não trocam informações sobre operações, o que o mercado chama de ¿chinese wall¿ (muralha chinesa, em inglês). Por isso, ele disse, a corretora não teria acesso a informações privilegiadas da operação.

¿ Também sempre tivemos uma atuação forte no setor educacional ¿ acrescenta o diretor da Morgan Stanley.

O grupo britânico Pearson, especializado em educação e publicações, vai pagar R$888 milhões em dinheiro pelo SEB para explorar o crescimento do mercado brasileiro.

A Pearson vai comprar a divisão de sistemas de ensino do SEB, que desenvolve treinamentos, métodos e materiais de ensino. A família Zaher, que detém 70% do SEB, ficará com as escolas e as instituições de ensino superior e se tornará um ¿importante cliente¿ da Pearson. É o segundo grande negócio do setor em 10 dias. No último dia 12, a família Civita (donos da Editora Abril) comprou o grupo Anglo, conhecido por seus sistemas de ensino e cursos pré-vestibular. Os Civita derrotaram o Pearson e o espanhol Santillana.

A transação aumenta a presença da Pearson no setor de educação do Brasil, onde a economia cresce no ritmo mais acelerado dos últimos 15 anos. A Pearson, que publica livros especializados e o jornal ¿Financial Times¿, obtém cerca de 65% de suas receitas no segmento de educação. A empresa disse que o Brasil é um dos maiores mercados mundiais do setor, com 56 milhões de estudantes e um mercado de material educacional avaliado em US$2 bilhões.

¿ O tamanho e as perspectivas de expansão de seu setor de educação, o Brasil tem sido um dos focos da Pearson já há algum tempo ¿ disse John Fallon, presidente da divisão internacional de educação da Pearson. ¿ O SEB vai oferecer uma plataforma para a construção de uma presença mais forte nesse setor na América Latina.

A Pearson prevê que a unidade de sistemas de ensino do SEB fechará 2010 com vendas de R$160 milhões. O SEB opera 31 unidades, do pré-escola integral ao pré-vestibular.

(*) Com agências internacionais