Título: Governo tem mais facilidade que oposição
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 25/07/2010, O País, p. 9
ENTREVISTA José Gregori
SÃO PAULO. Escolhido pela terceira vez pelo candidato a presidente José Serra (PSDB) para comandar suas contas de campanha, o exministro da Justiça José Gregori é do tipo que valoriza a discrição. E é a esse perfil que o tucano atribui os convites para uma função polêmica, já alvo de escândalos.
Gregori conversou com o GLOBO sobre a tarefa de administrar, nos próximos três meses, a campanha que tem a estimativa mais alta de gasto desta eleição R$ 180 milhões, contra R$ 157 milhões de Dilma Rousseff (PT) e R$ 90 milhões de Marina Silva (PV). O tucano diz que a situação financeira do comitê de Serra é promissora, mas admite que a candidata governista deverá ter mais facilidade para arrecadar recursos
O GLOBO: A campanha do Serra tem o maior orçamento desta eleição. Quanto já foi arrecadado nesses primeiros dias?
JOSÉ GREGORI: As coisas estão promissoras, mas não vou falar em números. O primeiro balanço deve ser enviado à Justiça Eleitoral na semana que vem. Vamos cumprir a lei e pretendemos também colocar no site da campanha a quantia arrecadada nesse período.
O que posso dizer é que começamos no último dia 15 a movimentação da nossa conta.
Ela já não é mais intocada.
Qual é a estratégia para buscar os recursos?
GREGORI: O valor informado à Justiça Eleitoral não é o que você gasta. É o que você estima.
É um processo burocrático penoso, que praticamente para o funcionamento do comitê.
Portanto, desta vez decidimos estimar com folga. Estamos naquela fase de surgir pessoas interessadas em ajudar.
Ainda não há necessidade de trabalho de proselitismo.
Quanto o PSDB prevê, de fato, gastar?
GREGORI: O nosso valor se aproxima do valor do PT. E os dois são bastante maiores que o da Marina porque ela tem a metade das alianças que nós temos. Ela vai trabalhar de uma forma mais intensa na metade dos estados brasileiros.
Nós vamos trabalhar em todos os estados.
Como o senhor avalia que será a corrida por recursos?
GREGORI: Todo governo tem mais facilidade do que a oposição, porque cria inevitavelmente dependências e relacionamentos que, às vezes, duram exatamente o período da campanha. Realmente o governo, na soma dos fatores que levam alguém a ajudar, terá sempre uma clientela maior de pessoas dependentes do que a oposição.
O PSDB não está tão em desvantagem porque tem o governo de São Paulo...
GREGORI: Não é bem assim.
Hoje você tem para quase tudo uma dependência que é indispensável do governo federal.
Não acontece isso com o governo estadual.
Que setores da economia têm sido mais receptivos?
GREGORI: É tudo mesclado.
Pelo menos, neste começo, não dá para dizer que há uns mais receptivos que outros
Estava em discussão na campanha a contratação de uma auditoria para o comitê financeiro. Houve decisão?
GREGORI: Imaginando que vamos ter uma massa de papéis muito grande, a ideia é montar um grupo de maneje essa cascata de notas e recibos.
Para a verificação dos documentos mais corriqueiros, talvez a gente tenha uma empresa especializada. Está p r a t i c a m e n t e e m v i a s d e (contratar).
A eleição deste ano traz novidades como a doação pela internet. O PSDB vai usar esse expediente?
GREGORI: Por enquanto, não.
Ele é muito importante. O problema é que ninguém disse ainda como a gente tem que se estruturar para isso.
Também será a primeira eleição após a proibição da doação oculta. Isso pode afastar doadores?
GREGORI: Acho que não. Depois do mensalão todo mundo sabe que precisa de clareza e transparência em relação a doações. A doação oculta é geralmente aquela que vai parar na mídia.
O senhor está se referindo a caixa 2. Algum partido consegue fazer campanha sem caixa 2?
GREGORI: Nós sempre conseguimos.
As nossas contas foram sacramentadas pela Justiça Eleitoral sem problemas.
O cargo de tesoureiro já foi alvo de polêmica e escândalos. É a terceira vez que o senhor é escolhido por Serra para a função.
A que atribui isso?
GREGORI: A uma boa história política, sem nenhum comprometimento judicial, policial ou jornalístico.