Título: A imagem do PMDB
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 08/07/2009, Política, p. 6

Somando tudo, o que temos? Um partido que agrega pouco, em termos de imagem, a quem ocupa o lugar do PT no imaginário da sociedade

Há um espectro que ronda as discussões políticas brasileiras faz tempo e atende pelo nome PMDB. Seja quando se fala das eleições do ano que vem, seja quando a conversa é sobre o desempenho do Congresso ou do governo, não há como deixá-lo de fora. Quando o assunto são os escândalos, então, o velho e bom PMDB está em todos.

Para Lula, o PMDB parece ser a maior obsessão. Quem acompanha o noticiário fica com a sensação de que o presidente acorda e vai dormir pensando nele, no que precisa fazer para garantir que o PMDB fique a seu lado até o fim do governo e, muito especialmente, na sucessão.

Seus atos confirmam essa impressão. Ele não só acolheu peemedebistas de várias correntes nos ministérios, como lhes deu um prestígio que poucos ministros possuem, incluindo correligionários antigos. Quando alguma liderança do partido está em apuros (o que acontece todo dia), a quem recorre senão a ele? E lá vai Lula fazer declarações que não precisava, que não servem para nada e que apenas o associam a personagens desgastados.

Pensando bem, todas suas movimentações ¿estratégicas¿ para 2010 têm uma única finalidade: assegurar que o PMDB apóie Dilma. Em função disso, aceita qualquer acordo nas outras eleições, para a Câmara, o Senado e os governos estaduais. Sacrificar projetos? Adiar carreiras? Pedir a companheiros que abram mão daquilo pelo que lutaram? Enquadrar quem não entra na linha? Vale tudo para ficar com o PMDB.

As outras forças que tradicionalmente se aliaram ao PT, como o PCdoB e o PSB, não merecem tanto. Elas que venham, se quiserem, sem que seja necessário lhes estender o tapete vermelho. Seu apoio é barato e vem por gravidade.

As pesquisas de opinião disponíveis podem ser de ajuda para entender o que é hoje a imagem do PMDB junto ao eleitorado. Conhecendo-a, fica mais fácil calcular o custo de andar tão colado a ele em uma eleição presidencial.

Não estamos falando das personalidades do partido, até porque não há, hoje, nenhuma que tenha projeção nacional suficientemente expressiva para fazer alguma diferença. Como reflexo fiel do que se tornou, suas lideranças são locais e regionais. A conhecida (e verdadeira) formulação de que o PMDB é uma federação de oligarquias estaduais aponta o porquê.

Resta-lhe, no entanto, uma sobra de imagem de partido propriamente dito. Em parte, é a que seus integrantes atuais herdaram de seu período áureo, quando representava o conjunto das oposições contra a ditadura. Desses tempos, pouca coisa ficou, salvo uma ou outra figura ilustre que ainda lá está.

Uma pesquisa da Vox Populi, feita em junho em todo o país, mostra algumas características da imagem atual do PMDB e de outros partidos. Não é a única, pois existem outros levantamentos com resultados parecidos.

A primeira coisa que chama atenção é a proeminência do PT nas representações do eleitorado brasileiro sobre o tema. Quando se pergunta em qual pensam em primeiro lugar ¿quando se fala em partidos políticos brasileiros¿, 47% dos eleitores dizem que é no PT. Ou seja, quase um em cada dois.

O PMDB fica em segundo, com 20%, o dobro do terceiro, o PSDB. É a mesma posição que ocupa quando se pede que os entrevistados identifiquem ¿o partido que tem lideranças mais fortes¿, ficando atrás, a uma boa distância, do PT.

PT e PMDB empatam quando se pergunta qual dentre os partidos atuais ¿está sempre no poder¿. Repetem o empate no quesito ter ¿mais políticos desonestos¿, quando dividem o primeiro lugar, embora o que a maioria dos entrevistados pense é que todos os partidos são iguais nisso.

A única dimensão em que o PMDB lidera é ser o partido ¿que mais diminui, que mais perde importância¿, sendo que, outra vez, a maior incidência de respostas é na opção ¿todos¿. Fica em último quando se pede aos entrevistados que apontem o partido que ¿mais cresce, mais ganha importância¿. Nesse atributo, o PT lidera com a vantagem maior.

Somando tudo, o que temos? Um partido que agrega pouco, em termos de imagem, a quem ocupa o lugar do PT no imaginário da sociedade. E que carrega o peso de estar associado (como o próprio PT) à corrupção e a um certo ¿governismo¿. Ajuda ou atrapalha?

Isso para não falar nos nomes que traz de cambulhada.