Título: Mensalão do DEM: ex-chefe do MP é denunciado
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 05/11/2010, O País, p. 15

Ex-governador Arruda é acareado em Brasília com os dois homens que o acusam de corrupção BRASÍLIA. Antes mesmo de a denúncia contra o ex-governador José Roberto Arruda chegar à Justiça, o Ministério Público Federal denunciou o procurador Leonardo Bandarra, ex-chefe do Ministério Público do Distrito Federal, por envolvimento no esquema de corrupção conhecido como mensalão do DEM.

Bandarra é acusado de vazar dados das operações que investigavam desvios de recursos públicos em contratos do governo do DF com empresas privadas.

O MPF também denunciou à Justiça Federal a promotora Deborah Guerner. A denúncia chegou ao desembargador Antônio Prudente, do Tribunal Regional Federal, há duas semanas.

De acordo com depoimento do ex-secretário de Governo Durval Barbosa, Bandarra e Deborah receberam dinheiro para proteger o grupo de Arruda. O ex-governador, preso e cassado, teria pago R$ 1,6 milhão a Bandarra, além de uma mesada de R$ 150 mil, para prejudicar as investigações conduzidas pelo MP. Os desvios eram investigados, pelo menos, desde 2008.

Em junho, a Procuradoria Regional da República, sob o comando do procurador Ronaldo Albo, cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Deborah e recolheu provas do envolvimento dos promotores na proteção a Arruda. Os dois também são investigados pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), e podem ser punidos com a aposentadoria compulsória, caso sejam considerados culpados.

Ontem, pela primeira vez desde sua prisão, em fevereiro, Arruda ficou frente a frente com os acusadores, o ex-secretário de Governo Durval Barbosa e o jornalista Édson Sombra. A acareação, promovida pelo CNMP, foi solicitada a pedido de Deborah Guerner. Primeiro, Arruda foi acareado com Durval, que reafirmou depoimentos prestados ao CNMP. Depois, encontrou-se com Sombra, que confirmou ter ouvido do próprio Arruda que ele pagava mensalmente R$ 150 mil a Bandarra para que impedisse as investigações.

Arruda negou as acusações e disse que foi vítima de uma armação movida por ¿interesses de terceiros¿. Durante a acareação, o ex-governador fez questão de encarar fixamente seus acusadores. O advogado dele, Nélio Machado, disse que o encontro foi rápido e ríspido.

¿ Evidentemente, o olhar não foi doce nem dócil. A relação entre eles não é de companheirismo.

Arruda limitou-se a falar apenas sobre o que era pertinente ¿ disse Machado.