Título: Ganho social com risco inflacionário
Autor: Jungblut, Cristiane ; Camarotti , Gerso
Fonte: O Globo, 04/11/2010, O Pais, p. 10

Para analistas, aumento real do mínimo em 2011 pode reduzir desigualdade

Henrique Gomes Batista

Se for mantida a regra dos últimos anos, o salário mínimo vai superar os R$ 600 mensais apenas no início de 2012. A antecipação de parte deste reajuste, como querem as centrais sindicais, já para o ano que vem traria benefícios, como redução da pobreza, mas também riscos, como a ameaça às contas públicas e um incentivo à alta da inflação, avaliam especialistas. Durante a campanha, o candidato tucano, José Serra, prometeu o valor de R$ 600 já para 2011, proposta que gerou polêmica.

A fórmula em vigor no governo Lula para o reajuste do mínimo leva em conta a inflação medida pelo IPCA e o crescimento econômico (variação do Produto Interno Bruto per capita) de dois anos anteriores. A ideia é que, assim, o salário sempre tenha aumentos reais (acima da inflação) quando a economia vai bem, permitindo a recomposição do poder de compra de forma gradual.

Mas, como em 2009 o PIB foi levemente negativo, o reajuste do próximo ano deveria ser apenas pela inflação. Por outro lado, em 2012 o mínimo passaria por um bom aumento: a inflação, estimada em cerca de 5%, e a variação do PIB per capita, que pode ficar acima dos 7%.

Desta forma, o valor, hoje em R$ 510, passaria de R$ 600 em 2012.

O que as centrais sindicais querem é antecipar parte deste aumento para o ano que vem.

¿ Parece que o governo e a nova presidente estão avaliando que os benefícios de antecipar parte do aumento são maiores que os riscos ¿ avalia o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ.

Cunha lembra que o principal benefício, além do poder de compra, é a redução da desigualdade.

Para ele, parte da ascensão social no governo Lula veio com a valorização do mínimo.

Os riscos, diz, são inflação ¿ o aumento tende a pressionar serviços e remunerações ¿ e impacto nas contas públicas, com rombo maior na previdência: ¿ Mas, mesmo que a situação fiscal do Brasil não seja tão austera no próximo ano, certamente o país estará melhor que os desenvolvidos, que devem ter mais um ano de gastos elevados para incentivar a economia.

Clemente Ganz, economista do Dieese, diz que há espaço para a antecipação do aumento: ¿ O mínimo ideal para uma família de dois adultos e dois filhos é de R$ 2.000. Estamos longe disso, mas se essa política for mantida, em poucos anos chegaremos a R$ 1.000 ¿ disse, defendendo a aprovação da lei que institucionaliza essa fórmula.