Título: Sem ajuste fiscal, analistas veem alta de juros
Autor: Jungblut, Cristiane ; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 20/11/2010, Economia, p. 33

Para economistas, novo governo terá que conter pressões inflacionárias

Diante de uma avaliação de que o novo governo não fará um ajuste fiscal do tamanho que consideram necessário, economistas reunidos ontem em um seminário sobre os desafios da presidente eleita Dilma Rousseff afirmaram que o Banco Central (BC) terá que subir os juros no ano que vem, para controlar as pressões inflacionárias provocadas pelo rápido crescimento da economia brasileira. No seminário, organizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), ex-diretores do BC também criticaram os mecanismos usados este ano pelo governo para cumprir a meta de superávit fiscal primário.

Para o economista-chefe do Santander, Alexandre Schwartsman, o BC já está "atrasado na política monetária". Segundo ele, sem o aumento dos juros, será impossível controlar a inflação, uma vez que o governo não deve realizar um ajuste fiscal "no tamanho que o país precisa".

- Aparentemente não há um compromisso com um superávit melhor. A sinalização é que vai ser mantido o status quo - disse Schwartsman, que foi diretor de Assuntos Internacionais do BC no governo Lula. - O que temos visto é uma pirotecnia com os números do superávit. E isso não é inédito. A Grécia fez bastante e está agora "muito bem", como sabemos.

Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor de Política Econômica do BC, um dos fatores que vão dificultar o cumprimento da meta será o reajuste do salário mínimo, que deve subir dos atuais R$510 para R$550, na expectativa dele.

Já Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, alertou que o aumento dos juros será necessário para evitar uma piora nas expectativas para a inflação que poderia levar a um descontrole dos preços:

- Estamos beneficiando pobres com o Bolsa Família e ricos com generosos financiamentos. Vamos para um capitalismo de compadres, e não para a busca por eficiência.