Título: Inflação vai ficar na meta, diz Mantega
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 03/12/2010, Economia, p. 32

Às vésperas de decisão sobre juros, ministro afirma que alta do IPCA é sazonal

MANTEGA: O importante é olhar o conjunto de preços da economia

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a inflação está sob controle e não vai escapar da meta do ano, fixada em 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. O IPCA acumulado em 12 meses está hoje em 5,2%. Ele novamente defendeu que a variação de preços está influenciada por efeitos sazonais e que a inflação está acomodada, se forem expurgados dos índices os itens alimentação e combustíveis.

As declarações ocorreram a seis dias de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidir os rumos da Taxa Selic, hoje a 10,75% ao ano. Diante da escalada do IPCA nos últimos meses e de declarações recentes da autoridade monetária, cada vez mais agentes de mercado passaram a apostar em retomada da alta dos juros este mês ou em janeiro. Há um mês, a expectativa era de que isso acontecesse apenas em abril.

- O governo fará o que for necessário (para que a inflação fique dentro da meta) - disse Mantega, após participar de reunião de Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Mantega defende cadastro positivo: reduzirá juros

Segundo o ministro, a aceleração dos preços neste fim de ano se deve a um comportamento sazonal de alimentos. Ele lembrou que os preços de produtos como milho, feijão e trigo subiram, mas já mostram uma inversão. Já a carne, que está em falta no mercado externo, ainda apresenta preços elevados.

- É algo cíclico. Estamos vendo que o milho já está caindo, o trigo já está caindo, e o feijão já começa a cair. Isso ocorre primeiro no atacado e vai chegar ao varejo em janeiro - disse Mantega. - Podemos ficar tranquilos porque haverá uma redução dos preços de alimentos no ano que vem. Aliás, essa história nós já vimos. No início deste ano, houve também uma elevação inflacionária por causa do álcool e das chuvas, que provocaram problemas com hortifrutigranjeiros, mas depois baixou. O importante é olhar não só os preços de alimentos, mas o conjunto de preços da economia.

O ministro destacou que, quando se olha a inflação sem o efeito de alimentos e combustíveis, o índice fica abaixo de 5% em 12 meses, e que é normal alguma alta de preços numa economia que cresce a 7,5% em 2010. Para Mantega, é mais importante ver o comportamento dos índices expurgando elementos que pressionam os preços de forma sazonal. Desse modo é possível evitar aumentos nas taxas de juros do país, provocados por altas pontuais da inflação.

Mantega também comentou a aprovação do Cadastro Positivo pelo Congresso, afirmando que foi importante e poderá reduzir as taxas de juros cobradas pelos bancos. Segundo ele, as instituições financeiras asseguraram que se tivessem melhores informações sobre bons pagadores - o que será possível com o novo cadastro - poderiam reduzir o spread (diferença entre quanto o banco paga para captar dinheiro no mercado e o que cobra dos clientes).