Título: Insatisfação com Dilma provoca reviravolta no PT sobre a Câmara
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 15/12/2010, O País, p. 4

Correntes se unem contra Vaccarezza; Marco Maia é agora o candidato

BRASÍLIA. A insatisfação de correntes petistas que perderam espaço na formação do Ministério da presidente eleita, Dilma Rousseff, e o descontentamento com o chamado "paulistério" provocaram uma reviravolta ontem na disputa interna do PT pela presidência da Câmara. Em represália, todos se juntaram contra o até então favorito Cândido Vaccarezza(SP), líder do governo, aclamando como pré-candidato o pouco conhecido atual vice-presidente da Câmara, Marco Maia (RS). Vaccarezza era o candidato preferido de Dilma.

Ele contou votos até o último momento, mas, depois que o ex-presidente Arlindo Chinaglia (SP) retirou sua pré-candidatura em favor de Maia, Vaccarezza também retirou seu nome da disputa. Maia é agora o candidato do PT para as eleições do dia 2 de fevereiro e deverá presidir a Câmara entre 2011 e 2012, sendo o terceiro na linha sucessória da Presidência da República.

Na semana passada, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), assinaram um acordo que daria ao PT o direito de presidir a Câmara no primeiro biênio do próximo mandato legislativo. O nome certo era o de Vaccarezza. Mas, nos últimos dias, ele foi perdendo apoios por ser visto como o candidato de Dilma.

O PT de Minas se rebelou com a não ida de Patrus Ananias para o Ministério e a perda do Ministério do Desenvolvimento Social para o Nordeste; a perda do Ministério do Desenvolvimento Agrário pela corrente Democracia Socialista (DS) do Rio Grande do Sul também o prejudicou.

O ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (SP) foi outro cabo eleitoral agressivo de Maia, porque, segundo petistas, estaria inconformado com a perda de indicações no Banco do Brasil.

- O que vale é o consenso. Se não tiver, a única alternativa é o voto - disse Maia, que contava com 52 dos 88 deputados.

Reunido com seus aliados, Vaccarezza jogou a toalha quando viu que não teria os votos e preferiu renunciar para não ser derrotado pelo voto da bancada. Nos bastidores, Chinaglia disse a seus aliados que um dos erros de Vaccarezza foi "ter sentado na cadeira antes da hora".

- O Chinaglia retirou para apoiar Marco Maia. As correntes DS e Mensagem também estão apoiando seu nome. O episódio de 2005, do Severino, comigo não vai acontecer. O PT não vai ter dois candidatos - disse Vaccarezza antes de renunciar.

Alguns deputados da oposição interpretaram a escolha de Marco Maia como um sinal de fragilidade da base dilmista no partido. E consideram que, com um nome mais frágil que o de Vaccarezza, possam surgir candidatos avulsos.

- Isso é sinal de confusão - disse o senador Delcidio Amaral (PT-MS), ao passar pela Câmara e saber da reviravolta.

- Nós do PSDB colocamos que vamos apoiar quem o PT decidir. Se foi o Marco Maia, vamos votar nele, né? - disse o líder do PSDB, João Almeida(BA).

No meio da reunião do PT, José Eduardo Dutra chegou e negociou longamente com representantes da DS, que tem hoje 12 deputados. Mas a derrota de Vaccarezza já estava sacramentada, e Marco Maia, aclamado como o pré-candidato do PT.

Marco Maia, como Vaccarezza, é da mesma corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB). É ex- metalúrgico, torneiro Mecânico, Industriário e ex-líder sindical.

Como relator da CPI do Caos Aéreo da Câmara, foi apelidado pelo relator da mesma CPI do Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO), como "Pedro Bó" (personagem abobalhado, criado pelo humorista Chico Anysio).