Título: Mabel promete até prédio a deputados
Autor: Braga, Isabel; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 27/01/2011, O País, p. 4

Candidato avulso a presidir a Câmara sofre pressão do governo e de seu partido

BRASÍLIA. Correndo contra o tempo, a seis dias da disputa pela presidência da Câmara, o candidato Sandro Mabel (PR-GO) apelou ontem para o baixo clero, prometendo a construção do novo prédio de gabinetes para acomodar deputados. Segundo ele, já no dia 1º de fevereiro à noite, se for eleito, as obras começarão a sair do papel.

Apesar de apresentar propostas atrativas aos colegas, Mabel terá que se esforçar para neutralizar a ação do Palácio do Planalto, que trabalha para minar sua candidatura até a próxima semana. A expectativa no governo é que Mabel desista de concorrer ao comando da Câmara na véspera da eleição. Ontem à noite, o Planalto avaliava que a candidatura de Mabel estava desidratada e teria de 50 a 80 votos.

O golpe mais forte veio da cúpula do PR, que ameaçou Mabel de expulsão do partido. A ameaça foi divulgada por integrantes da legenda. O Planalto também agiu junto ao PTB. Até o dia anterior, o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), ameaçava lançar sua candidatura avulsa. Ontem, o PTB oficializou o apoio à candidatura oficial do deputado Marco Maia (PT-RS), que conquistou o apoio formal de 21 partidos da Casa.

Mabel também tentou desvincular sua imagem da de Severino Cavalcanti, ex-presidente da Casa, eleito em 2005, em meio a um racha no PT. Ele afirmou ser preparado, com experiência em administração e fluência em inglês e espanhol.

Para Planalto, candidatura avulsa é chantagem

Mabel também avisou que pretende dar mais voz aos deputados nas emissoras de TV e rádio da Câmara, no lugar de programas culturais. No caso das obras, afirmou, em entrevista à imprensa:

- Em um ano e meio estará de pé. Não tem cabimento alojarmos mal os deputados. Não tenho preocupação de polêmica com coisas justas.

Mabel e Maia aproveitaram reuniões de partidos na Câmara para pedir votos. Mabel foi primeiramente à reunião do PSDB, defendeu a construção do prédio de gabinetes e a aprovação de um projeto que tornar impositiva a execução, pelo governo, das emendas parlamentares. Os dois se encontraram- na saída do evento, porque Mabel fez questão de sair pela mesma porta que Maia entrava.

No núcleo do governo, a candidatura de Mabel foi recebida como uma chantagem de deputados de partidos aliados, insatisfeitos com as negociações para os cargos de segundo escalão. Sem Mabel na disputa, esses parlamentares não teriam como demonstrar o descontentamento.