Título: Governo escala Vicentinho para defender R$545
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 12/02/2011, O País, p. 15

BRASÍLIA. Para constranger e segurar as centrais sindicais, além de evitar traições na base aliada, o governo escolheu o deputado Vicentinho (PT-SP) para ser o relator do projeto que fixa o salário mínimo em R$545 e estabelece a política de valorização do mínimo até 2015, inclusive. Ex-presidente da CUT, Vicentinho disse que defenderá a manutenção do atual acordo para o reajuste do mínimo -- inflação mais o PIB de dois anos atrás -, como exige o governo, seguindo o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que avisou não haver margem para negociar os R$545.

Comandadas pelo presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), as centrais centram fogo numa emenda de R$560. O governo usará a votação dos R$560 como o primeiro teste da lealdade da base aliada na era Dilma.

A emenda de R$560 já tem o apoio do DEM, do PV e até do PSDB, que manterá sua emenda de R$600 para firmar posição. O acordo fechado entre Vaccarezza e a oposição prevê a votação do projeto e depois as duas emendas - de R$600 e de R$560 - em votações nominais. Os defensores dos R$560 esperam constranger os parlamentares governistas com a votação nominal.

Vicentinho já conversou com o presidente da CUT, Artur Henrique, e ainda vai procurar as demais centrais.

- Minha preocupação é que não haja quebra de acordo. O líder do governo me informou que não há margem de negociação - disse Vicentinho.

O petista afirmou que não se sentirá constrangido diante dos colegas dos sindicatos:

- Não, porque minha vida foi defendendo a credibilidade. Se não, vira bagunça. Houve um acordo com as centrais.

Mas o deputado disse que as centrais têm o direito de continuar lutando. Uma das propostas, do PDT, é que os R$560 sejam fruto da antecipação de um percentual do reajuste que será dado ao mínimo em 2012 e que deverá ficar em torno de 13%:

- Sou muito simpático à antecipação, mas o líder do governo disse que não há margem de negociação.

Vaccarezza insiste que a base está "fechada nos R$545". Aliados afirmam que o Planalto está sendo duro ao exigir lealdade aos R$545. De forma velada, as ameaças são de corte de emenda e suspensão de nomeações. Até o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, tem ligado para parlamentares do PT para dizer que a proposta é essa e que não defendam alternativas ou mesmo a negociação da correção da tabela do Imposto de Renda.

O governo quer primeiro votar o mínimo para depois corrigir o IR. Dirigentes do PMDB dizem que o partido vai votar nos R$545. A avaliação de aliados é que o líder do partido, Henrique Eduardo Alves(RN), devido às brigas pelos cargos de segundo escalão, está impossibilitado de tomar posição diferente.

Já na quinta-feira, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, disse que as centrais estavam agora acordadas em torno dos R$560. Oficialmente, elas continuam falando em R$580:

- Os R$560 têm mais viabilidade e é o que a gente consegue fechar - disse Paulinho.

A votação do projeto do mínimo está marcada para a próxima quarta-feira. A data já havia sido antecipada na quinta-feira pelo líder Vaccarezza e hoje foi confirmada pelo presidente da Câmara, deputado Marco Maia.