Título: PMDB ameaça Virgílio para salvar José Sarney
Autor: Azedo, Luiz Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 03/08/2009, Política, p. 4

Sob comando do Conselho de Ética, peemedebistas querem abrir processo contra líder do PSDB e encerrar ações sobre presidente do Senado.

Não existe guerra sem mortos. A velha expressão está de volta ao vocabulário dos caciques do Senado, nas duras negociações que antecedem a reunião de amanhã do Conselho de Ética, na qual o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) deve arquivar as 11 ações apresentadas pela oposição contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e aceitar a representação do PMDB, assinada pela presidente da legenda, deputada Iris de Araújo (GO), contra o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio Neto (AM), o mais duro adversário de Sarney.

O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), no fim de semana, conversou por telefone com o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), e deixou claro que a cabeça do líder do PSDB, Arthur Virgílio Neto, será a primeira a ser degolada no confronto entre os dois partidos, porque haveria maioria para isso no Conselho de Ética e em plenário. Principal desafeto de Sarney, o tucano teria extrapolado nas críticas ao grupo Sarney-Renan e está com a guarda aberta por causa do fato de manter um assessor estudando na Espanha e pedir dinheiro emprestado ao ex-diretor-geral Agaciel Maia, objetos da representação contra ele. Em sucessivos pronunciamentos da tribuna do Senado, Virgílio afirma que não teme a cassação e vai para tudo ou nada contra Sarney.

Apesar do nome indicar o contrário, Guerra vem sendo um mensageiro da paz perante Renan. Reservadamente, com apoio dos governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, tenta construir um acordo da oposição com os governistas, de maneira a que Sarney possa se afastar da Presidência do Senado sem sofrer um processo de cassação. Nesse caso, a oposição apoiaria um nome governista para substituí-lo. O acordo também encerraria as hostilidades entre o PMDB e o PSDB na Casa. O nome cogitado para assumir o lugar de Sarney seria o do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), aliado do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), com bom trânsito no Palácio do Planalto. A proposta ganhou fôlego com o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), e o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), mas foi rechaçada por Sarney. Procurado por Guerra, o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), preferiu manter distância regulamentar da crise no Senado.

Conversas

Renan desembarcou em Brasília ontem, à noite, a fim de comandar as articulações governistas para um confronto aberto com a oposição no Conselho de Ética. No aeroporto de Brasília, abordado pelo Correio, desconversou quanto ao posicionamento do presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque, com quem deve conversar ainda hoje. Terá também um encontro com Sarney, que já voltou a Brasília, depois da alta de sua esposa, dona Marly, que estava internada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O líder do PMDB corroborou com as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que a permanência ou não de Sarney na Presidência do Senado seria um problema dos senadores: ¿É isso mesmo, nos é que vamos resolver¿. E contemporizou em relação ao posicionamento de Mercadante (SP), que defende o afastamento de Sarney: ¿É um aliado que tem as suas dificuldades na bancada e no eleitorado de São Paulo¿.

A possibilidade de Duque apensar as denúncias contra Sarney e designar um relator de confiança foi descartada a pedido de Sarney. O regimento, modificado pelos senadores, determina que o relator seja sorteado. A alteração foi feita devido ao caso Renan, que escapou de dois processos de cassação, um deles graças à renúncia ao cargo de presidente do Senado. Como sorteio, Sarney estaria sujeito a uma espécie de ¿roleta russa¿, pois as representações contra ele poderiam parar nas mãos de um desafeto como Arthur Virgílio, um dos três representantes da oposição no conselho. É por isso que Duque deve arquivar as ações e a oposição terá que promover uma dura batalha para reverter essa decisão, primeiro no pleno do Conselho de Ética, onde também provavelmente será derrotada, e depois em plenário. Já no caso de Arthur Virgílio, é o contrário: a probabilidade maior, aceita a representação, é de um governista ser o relator.

A bancada do DEM, que havia apoiado a eleição de Sarney, deve entrar com mais uma representação contra o presidente do Senado, anuncia o líder José Agripino. ¿Nós vamos nos reunir até terça-feira e decidir essa questão. Não há acordo possível sem a saída de Sarney, muito menos depois das ameaças a Virgílio¿, afirma. A expectativa também é grande em relação à bancada do PT, que se reunirá amanhã. Oito dos 12 senadores petistas são a favor do afastamento do presidente do Senado. Se essa posição prevalecer, os quatro aliados do peemedebista tenderão a acompanhar a maioria. Nesse caso, a posição de Sarney se tornará insustentável.

Não há acordo sem a saída de Sarney, muito menos depois das ameaças a Virgílio¿

José Agripino Maia, líder do DEM no Senado

Máquina de escândalos Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr - 6/5/09 12 de março

Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press - 26/8/08 20 de maio

Desde o primeiro dia legislativo do ano, quando o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) subiu à tribuna para defender o afastamento do então diretor-geral do Senado Agaciel Maia, a Casa não teve mais trégua e sofre com uma onda de denúncias que parece não ter fim:

1º de março - Agaciel Maia não resistiu à repercussão da denúncia de que ocultara a propriedade de mansão no Lago Sul e deixou a Diretoria-Geral do Senado, onde estava há 14 anos

10 de março - Com a autorização do ex-primeiro-secretário do Senado Efraim Morais (DEM-PB), a Casa pagou horas extras a servidores durante o recesso parlamentar de janeiro

12 de março - João Carlos Zoghbi (foto) deixou a função de diretor de Recursos Humanos do Senado, posto que exercia há 15 anos, após a revelação de que cedera aos filhos imóvel funcional enquanto morava numa mansão do Lago Sul

15 de março - Prestadoras de serviço empregaram parentes de diretores e servidores do alto escalão do Senado, incluindo gente ligada ao ex-diretor-geral Agaciel Maia

16 de março - A senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) utilizou sua cota de passagens para trazer a Brasília um grupo de aliados políticos

17 de março - O senador Tião Viana (PT-AC) admitiu que emprestou um celular do Senado para a filha durante viagem realizada por ela ao México. A conta do celular foi de R$ 14 mil, dinheiro que, segundo informação do parlamentar, foi ressarcido aos cofres públicos

18 de março - Descobriu-se que o Senado, composto por 81 parlamentares, mantinha pelo menos 181 funcionários com cargos de direção. Houve promessa de enxugar a estrutura, reduzindo pelo menos 50 postos, mas muito pouco foi feito até agora

2 de abril - O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) utilizava verbas de passagens aéreas para fretar jatinhos, num total de R$ 469 mil de 2005 até 2009. Outros senadores defenderam Tasso, afirmaram ser tudo legal e também declararam fazer o mesmo. Heráclito Fortes (DEM-PI), atual primeiro-secretário do Senado, usou R$ 43.785

20 de maio - O senador Efraim Morais (foto), do DEM da Paraíba é acusado de manter 52 funcionários-fantasmas no gabinete nos últimos quatro anos. Eles seriam oficialmente contratados para trabalhar no Congresso, mas atuariam como cabos eleitorais

10 de junho - Atos administrativos secretos foram usados para nomear parentes, amigos, criar cargos e aumentar salários no Senado. Levantamento feito por técnicos da Casa detectou cerca de 300 decisões que não foram publicadas

25 de junho - O sistema de crédito consignado no Senado incluiu entre seus operadores José Adriano Cordeiro Sarney, neto do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP)

3 de julho - José Sarney teria ocultado da Justiça Eleitoral a propriedade da casa onde mora. Ela é avaliada em R$ 4 milhões e fica na Península dos Ministros, Lago Sul

5 de julho - A cúpula do Senado criou em 1997 três contas bancárias paralelas e deu ao então diretor-geral, Agaciel Maia, total liberdade para movimentá-las sem prestar contas