Título: Caso Roriz: corregedor à espera de provocação
Autor: Lima, Maria ; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 08/03/2011, O País, p. 5

BRASÍLIA. Para rebater notícias de que está ausente em um momento de crise provocado pela divulgação de um vídeo em que a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) aparece recebendo maços de dinheiro, o corregedor da Câmara, deputado Eduardo da Fonte (PR-PE), divulgou nota ontem dizendo que acompanha o caso, mas só pode agir após provocado. Se receber pedido de investigação, ele garante que a Corregedoria da Câmara vai apurar tudo com rigor.

"A Corregedoria será rigorosa e tomará todas as providências necessárias assim que for formalmente provocada e estiver de posse de todas as informações a respeito do caso", diz a nota. O corregedor está fora do país durante o feriado de carnaval. Conhecido também como Dudu da Fonte, o deputado foi assessor e é um herdeiro político do ex-deputado Severino Cavalcanti - que renunciou para não ser cassado depois das denúncias de que recebia um "mensalinho" na Câmara.

PSOL pedirá abertura de investigação

Nos últimos dias, o líder do PSOL na Câmara, deputado Chico Alencar (RJ), tem reclamado da ausência do corregedor para tomar providências sobre o escândalo envolvendo Jaqueline, membro da comissão de reforma política da Câmara. Ontem, ele lembrou que na sexta-feira o partido pedirá abertura de investigação contra Jaqueline na Câmara. Alencar ponderou que a Corregedoria pode ser provocada pelo próprio presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), e não obrigatoriamente por um partido político.

Marco Maia anunciou que pediu informações sobre o caso ao Ministério Público. Para o líder do PSOL, por ser corregedor, o deputado Eduardo da Fonte tem a obrigação de se pronunciar sobre o novo escândalo envolvendo a família Roriz.

- Não será por falta de denúncia (que a Corregedoria deixará de se pronunciar). Essa providência será tomada pelo PSOL na quarta ou quinta-feira. Mas entendo que o próprio presidente Marco Maia pode pedir as providências. Os elementos são muito robustos para que ela seja avaliada do ponto de vista ético e de decoro parlamentar. A função de corregedor exige que ele se pronuncie sobre isso. Até em Trípoli é possível contactar as pessoas - afirmou o parlamentar fluminense.

Durval Barbosa gravou mais de 40 vídeos

Em vídeo gravado em 2006, Jaqueline foi flagrada recebendo dinheiro de forma ilegal para custear sua campanha para deputada distrital. Ela recebe cerca de R$50 mil das mãos do delator do mensalão do DEM, Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal.

Ao todo, Durval gravou mais de 40 vídeos. Há cenas de empresários com contratos com o governo do Distrito Federal entregando dinheiro a Durval e também imagens dele repassando propinas a integrantes do Executivo local.

Em um dos vídeos, o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, aparece recebendo um pacote com R$50 mil de Durval. O vídeo foi gravado durante a campanha de 2006, quando Arruda se candidatou ao governo do DF com o apoio velado de Joaquim Roriz, pai da deputada Jaqueline.

Há ainda vídeos do então presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente, enfiando pacotes de dinheiro nas meias e nos bolsos; da ex-deputada Eurides Brito guardando dinheiro em uma bolsa; e do empresário Alcyr Duarte Collaço Filho, dono de um jornal local, escondendo maços de cédulas na cueca.

A deputada Jaqueline Roriz continua incomunicável. Desde a divulgação das imagens, na semana passada, ela não veio a público para dar satisfação à sociedade. A assessoria de imprensa informou que ela só deverá dar entrevista depois do carnaval.