Título: Kadafi muda discurso e já fala em eleição
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Fonte: O Globo, 05/04/2011, O Mundo, p. 26

Itália reconhece rebeldes e cogita armá-los. Forças oposicionistas retomam áreas petrolíferas de Brega REBELDES CORREM em busca de abrigo diante de explosões em um combate com tropas pró-Kadafi em Brega: disputa lenta pelo controle da cidade BREGA, Líbia. Depois de prometer afogar em sangue a rebelião contra seu governo e caçar os rebeldes "de casa em casa" semanas atrás, o ditador líbio, Muamar Kadafi, mudou o tom do discurso ontem e seu regime agora já fala em eleições e reformas políticas. Horas depois de sofrer novos reveses ? incluindo o reconhecimento oficial dos rebeldes pela Itália ? o porta-voz do governo Mussa Ibrahim afirmou que a Líbia está pronta para "qualquer sistema político, Constituição e, eleições" desde que Kadafi lidere o processo. ? Quem são vocês para decidir o que os líbios devem fazer? Ninguém pode vir à Líbia e dizer: vocês têm que trocar de líder, de sistema ou de regime ? disparou o porta-voz. Reino Unido pode fornecer armamento não letal A reação veio depois que o ex-embaixador da Líbia na Índia e agora um dos porta-vozes da oposição, Ali al-Issawi, rechaçou uma nova proposta de cessar-fogo ? feita pelo filho do líder líbio, Saif al-Islam. Mas não foi só. Al-Essawi testemunhou pessoalmente o reconhecimento italiano do Conselho Nacional de Transição (CNT) como o único interlocutor legítimo e oficial do país norte-africano. Em Roma, onde recebeu al-Issawi, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, reiterou que qualquer proposta para um acordo sobre a Líbia tem como pré-condição a renúncia de Muamar Kadafi. Ao tornar-se o segundo país europeu e o terceiro a reconhecer o CNT como representante legal ? depois da França e do Qatar ? Frattini afirmou que inaugurará, em breve, um escritório de representação diplomática italiana em Benghazi, quartel-general da oposição: ? Reconhecer o Conselho Nacional significa confirmar ao povo líbio que a Itália está do lado deles há muito tempo. E isto não mudará nunca. Enquanto Kadafi vem recorrendo a Abdelati Obeidi, um ex-primeiro-ministro líbio, como emissário a vários países ? ele já foi a Grécia, Malta e Turquia ? o jornal americano "New York Times" revelou que pelo menos dois dos oito filhos do ditador estão propondo uma solução que consistiria em tirar os poderes de seu pai ? instaurando, então, um regime constitucional sob o comando de Saif al-Islam. Embora não esteja claro se o próprio ditador concorda com a estratégia, a possibilidade é completamente descartada pela oposição. Fontes insurgentes em Benghazi afirmaram ontem que o Qatar ? que sediará uma reunião internacional sobre a crise na próxima semana ? vai ajudar a armar os rebeldes, numa tática que, embora vista com desconfiança pelos Estados Unidos, começa a ganhar força no Reino Unido e na própria Itália. Em Londres, o chanceler britânico, William Hague, informou ao Parlamento que o Reino Unido analisa o fornecimento de equipamento não letal, como aparelhos de telecomunicações, aos opositores. A opção também não foi descartada pelos italianos. ? Como as forças da coalizão não podem lutar em terra, a ajuda à população em sua autodefesa, com o fornecimento de armas, não pode ser excluída segundo a resolução das Nações Unidas ? argumentou Frattini. Na Líbia, a maior batalha do dia ocorreu em Brega. Segundo testemunhas, os rebeldes conseguiram avançar sobre boa parte da cidade. Entre relatos de trocas de tiros e explosões, a região chamada de Nova Brega ? que abriga a produção petrolífera local ? já estaria, novamente, nas mãos da oposição. ? Estamos mais organizados agora. Isso teve um grande papel ? contou o combatente Salam Idrisi, de 42 anos. Ontem a ONU alertou para o desaparecimento de 400 pessoas que tentavam fugir da Líbia em dois barcos. Há relatos de pelo menos dez corpos encontrados na costa italiana.