Título: Comunicação falha
Autor: Oswald , Vivian
Fonte: O Globo, 11/04/2011, Economia, p. 20

Falta de clareza piora cenário da inflação

BRASÍLIA. Independentemente da estratégia adotada pelo Banco Central (BC) para lidar com a inflação, analistas ouvidos pelo GLOBO são unânimes ao apontar falhas na forma como a autoridade monetária se comunica com o mercado. Para o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, embora a instituição e o Ministério da Fazenda estejam atuando de forma mais integrada e tenham afinado o discurso, o BC está dando ao mercado sinais de menos rigor:

- O (Alexandre) Tombini é um técnico experiente, eu confio nele. Mas a leitura é confusa. Ele precisa deixar claro para o mercado que não há prazo para encerrar a alta dos juros e que a dosagem vai ser a necessária - disse.

Um ex-integrante da equipe econômica elogia a articulação entre Fazenda e BC, mas afirma que o governo ainda está "tateando" para encontrar a dosagem certa de juros e medidas macroprudenciais quando a inflação preocupa.

- O Brasil está fazendo o certo. O BC e a Fazenda conversam. Na minha época, isso não acontecia - disse. - Conheço o Tombini e ele não é leniente com a inflação.

O economista-chefe da Maxima Asset Management, Elson Teles, critica a comunicação do BC. Para ele, o mercado não quer uma dose fortíssima de juros. Mas o BC precisava ter dito claramente que fará o que for preciso para baixar a inflação.

Para o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, as expectativas não estão ancoradas porque o BC está mudando de estratégia, gerando dúvidas. Para ele, a mudança ocorre no meio da batalha, o que indica que o BC está mais confiante que o mercado.

No governo, evita-se a palavra mudança para não criar mais curtos-circuitos nas expectativas e diz-se que as "medidas macroprudencias" são remédios já aplicados. Só a embalagem seria nova. (Vivian Oswald e Martha Beck)