Título: Promotora simula loucura para se livrar de processo
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Fonte: O Globo, 28/04/2011, O País, p. 3

Vídeo mostra psiquiatra ensinando Deborah Guerner, suspeita de participar do mensalão do DEM, a fingir insanidade mental

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Em reunião com o psiquiatra Luis Altenfelder Silva, a promotora Deborah Guerner, acusada de envolvimento com o mensalão do DEM, planejou usar as mortes do pai e da mãe para simular insanidade mental e se livrar de processos a que responde no Tribunal Regional Federal da 1ª Região e no Conselho Nacional do Ministério Público. As cenas do "teatro da loucura", divulgadas ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo", estão entre os motivos que levaram Deborah e o marido, Jorge Guerner, à prisão. O casal e o psiquiatra são acusados de fraude processual, entre outros crimes.

Pela denúncia do procurador regional da República Ronaldo Albo, Deborah, Jorge Guerner e Altenfelder se reuniram na noite de 29 de agosto para ensaiar os sinais de loucura que a promotora apresentaria na perícia médica no dia seguinte, no Instituto Médico Legal. Se fosse considerada louca, ele teria mais chances de escapar das acusações de corrupção e extorsão que pesam contra ela. Altenfelder ensina a promotora a citar as mortes do pai e da mãe como motivadores do desequilíbrio.

"Aí, o que você faz: segura (incompreensível) meu pai é tudo pra mim. Você tem que falar com espontaneidade: Com o falecimento do meu pai, que era tudo pra mim", diz o psiquiatra. Jorge Guerner sugere, então, que a mulher descreva o pai como um homem protetor. "Porque ela considerava ele um protetor", explica Guerner. "Ah! Ele era "costa quente" total!", completa a promotora. Empolgada com o teatro, Deborah diz que depois da morte do pai, "perdeu o chão". O psiquiatra gosta da ideia e carrega na dramaticidade: "Quando meu pai morreu, eu perdi o chão - você fala! Que eu fiquei muito, muito, muito, triste. Perdi a alegria, perdi o domínio".

Num outro vídeo, a promotora simula um mal-estar na presença de um funcionário do Conselho Nacional do Ministério Público. Dez minutos depois de um suposto desmaio, ela se levanta, troca de roupa e sai de casa, como se nada tivesse acontecido. Pelas investigações do Ministério Público, a promotora usou 16 atestados para não comparecer a audiências no Conselho Nacional e na Procuradoria Regional. Só por um dos atestados teria custado R$15 mil. Deborah é acusada também de comprar um laudo da psiquiatra paulista Carolina de Mello Santos. A promotora, o marido, Altenfelder e Carolina foram denunciados por Ronaldo Albo no TRF. O procurador também pediu que o Conselho Regional de Medicina de São Paulo investigue o envolvimento dos dois psiquiatras na suposta fraude. O Cremesp abriu uma sindicância.

Em três processos em tramitação no TRF, a promotora é acusada de vazar informações sigilosas para Durval Barbosa, o delator do mensalão do DEM, e tentar extorquir R$2 milhões do ex-governador José Roberto Arruda. O dinheiro seria para que ela não divulgasse o vídeo em que Arruda aparece recebendo R$50 mil de Barbosa. O vídeo foi divulgado mais tarde e Arruda perdeu o mandato.