Título: O acidente do impeachment de Collor
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 31/05/2011, O País, p. 11
Sarney justifica ausência do fato em exposição no Senado sobre História do Congresso
BRASÍLIA. Após passar por um processo de revitalização, a exposição do chamado "Túnel do Tempo" do Senado - um conjunto de 16 painéis nos quais a instituição se propõe a retratar os principais fatos da História do Congresso Nacional, desde a instalação do Senado em 1822 - suprimiu decisões mais recentes tomadas pelos senadores, como a aprovação, em 1992, do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, agora senador pelo PTB de Alagoas. Ao justificar a omissão, durante a reinauguração da exposição, ontem, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), classificou o impeachment como "um acidente" que não deveria ter ocorrido.
- Olha, eu não posso censurar os historiadores encarregados de fazer o painel. Talvez esse episódio seja apenas um acidente que não devia ter acontecido na História do Brasil. Mas não é tão marcante como foram os fatos que aqui estão contados, que foram os que construíram a História, e não os que, de certo modo, não deviam ter acontecido. O que vale é que nós temos uma Constituição e sempre nos organizamos em torno da lei - justificou Sarney em entrevista.
Mais tarde, em conversa com O GLOBO, Sarney acrescentou:
- O Golpe de 64 está lá, porque resultou numa ditadura de 20 anos, mas a deposição de Jango (o ex-presidente João Goulart) não está lá. Se fôssemos mencionar tudo, não teríamos espaço suficiente.
Nas versões anteriores da exposição, tinha destaque o impeachment de Collor - o primeiro presidente da República afastado do cargo por determinação do Congresso Nacional. Eram mostradas imagens das passeatas dos estudantes - os caras-pintadas - pelo impeachment, acompanhadas de informações sobre a decisão tomada no segundo semestre de 1992.
A exposição lembra a relação do Senado com momentos históricos da República, como a abolição da escravatura (1888), o Ato Institucional nº 5 (1968) e a Constituição Federal de 1988. Mas ficaram de fora também outros momentos ruins para a História do Senado, como a cassação do primeiro senador da República, Luiz Estevão, e a renúncia do ex-presidente Jader Barbalho.
A revitalização do "Túnel do Tempo" - uma galeria que fica no túnel que liga o plenário aos gabinetes dos senadores - foi organizada pela Subsecretaria de Criação e Marketing, comandada pela servidora Elga Mara Teixeira Lopes. Segundo Elga, a partir da Constituição de 1988, a opção dos historiadores foi destacar os fatos marcantes da atividade legislativa: "O foco da exposição é mostrar a produção legislativa do Congresso Nacional. A discussão e aprovação das leis são a essência do que faz o Parlamento como poder republicano".
Na linha do tempo que retrata as duas últimas décadas da História do Brasil, de 1991 a 2010, o historiador Pedro Costa, funcionário responsável pela seleção de fatos, preferiu ressaltar "fatos mais relevantes", como opinou Sarney. Entre eles, projetos de lei importantes aprovados pelo Legislativo como a Lei de Responsabilidade Fiscal, os estatutos da Micro e Pequena Empresa, do Idoso e do Torcedor, e mesmo a Lei da Ficha Limpa, que só será aplicada nas eleições de 2012.
O líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), ironizou a mudança promovida pela direção da Casa no "Túnel do Tempo":
- Agora querem revogar a História? Será que isso vai para os livros didáticos do MEC (Ministério da Educação) também?.
Desde que Collor foi eleito senador, em 2006, o presidente do Senado parecia incomodado com o painel que fazia referência ao afastamento do ex-presidente do cargo. Na época da posse, em fevereiro de 2007, o painel chegou a ser retirado para limpeza, mas acabou voltando em abril.