Título: Não houve violação do sigilo
Autor: Braga, Isabel ; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 04/06/2011, O País, p. 4

Corpo A Corpo

Gilberto Kassab, prefeito de São paulo

Quando se aperta Gilberto Kassab sobre o vazamento do patrimônio do ministro Antonio Palocci, o prefeito de São Paulo é samba de uma nota só: em tese, os dados patrimoniais do ministro poderiam ter vindo a público tanto pelo secretário acusado, Mauro Ricardo, quanto pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, não incluído na lista dos suspeitos, mesmo sendo inimigo íntimo de Palocci. Kassab, logo em seguida, acrescenta que tanto um quanto outro são corretos no exercício do cargo.

Como Kassab é considerado um dos grandes articuladores políticos da atualidade, com todos os vícios e virtudes das antigas raposas, nada o que diz deve ser desprezado. Pelo contrário, deve ser milimetricamente medido, pois gente assim não joga palavras fora.

Jorge Bastos Moreno

O ex-presidente Lula e o ministro Gilberto Carvalho acusaram publicamente a prefeitura de São Paulo de ter vazado informações contra o ministro Palocci. São dois nomes importantes do PT fazendo uma acusação grave. Como o senhor reagiu a isso?

GILBERTO KASSAB: Em tese é tão possível vazar do Ministério da Fazenda quanto da Secretaria de Finanças da prefeitura. Posso afirmar que tanto o ministro Mantega e sua equipe, eu, como prefeito, e os secretários da prefeitura lidamos com toda a lisura com o sigilo dos contribuintes. Depois de minuciosa apuração coordenada pela secretaria ficou constatado que não houve violação do sigilo. Se tivesse ocorrido, não sossegaríamos enquanto não encontrássemos o responsável, que seria exemplarmente punido.

E é verdade que, por conta disso, a presidente Dilma Rousseff também ficou magoada com o senhor?

KASSAB: A presidente sabe que existe um traço em relação ao político Gilberto Kassab. Esse traço se chama lealdade política. Já disse que torço e irei cooperar para que faça um bom governo. O resto fica no campo da intriga.

Era sabido da sua relação boa com o ministro Palocci. Diziam até que ele o ajudava na criação do PSD, como intermediário da presidente. Como está essa relação agora?

KASSAB: Nossa relação sempre foi correta no plano institucional, com bom respeito no campo pessoal. Não acredito que mude.

Jorge Bornhausen é ligadíssimo ao senhor. Os jornais noticiaram que Bornhausen estava amigo de Palocci. Essa relação Bornhausen-Palocci passava politicamente pelo senhor ou era uma relação que não envolvia a política?

KASSAB: Nenhum dos dois precisa de mim para ter uma relação entre si.

Por que a acusação foi direta a um secretário seu? Ele é subordinado ao senhor ou a Serra?

KASSAB: Todos reconhecem que estruturei uma boa equipe para me auxiliar na gestão da cidade de São Paulo. Tenho em meu governo alguns dos melhores quadros públicos do país, entre eles Mauro Ricardo. Posso afirmar que ele tem os mesmos princípios e o mesmo padrão de espírito público do ministro Mantega.

Se um secretário seu fizesse, a nível municipal, o que Palocci fez, o senhor o demitiria?

KASSAB: Daria condições para que ele desse todas as explicações que julgasse necessárias.