Título: Dilma escapa de ficar refém do PT
Autor: Yafusso, Paulo
Fonte: O Globo, 11/06/2011, O País, p. 15

Presidente também teve a cautela de conversar antes com Temer e PMDB

BRASÍLIA. A escolha da ex-senadora Ideli Salvatti para substituir Luiz Sérgio na Secretaria de Relações Institucionais (SRI) foi o caminho encontrado pela presidente Dilma Rousseff não só para ter alguém de confiança no comando da articulação política, mas também para não ficar refém da briga interna do PT da Câmara. A manobra da bancada petista para emplacar o líder do governo da Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), no lugar de Luiz Sérgio, e o risco de o PMDB reivindicar a vaga aberta na liderança foram decisivos para que a presidente, mais uma vez, impusesse a sua escolha.

Diferentemente do que fizera na substituição de Antonio Palocci por Gleisi Hoffmann na Casa Civil, sem qualquer aviso prévio, Dilma adotou uma nova postura política para sacramentar o troca-troca entre Ideli e Luiz Sérgio. Anteontem, Dilma chamou seu vice, Michel Temer, e antecipou a decisão.

Antes de se reunir com Luiz Sérgio, no início da tarde de ontem, Dilma também adiantou seus planos para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), durante uma cerimônia militar da qual ambos participaram. Depois, telefonou para seus principais interlocutores no Congresso para dar uma satisfação.

Dilma telefonou até para o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), de quem reclamara pelas articulações a favor de Vaccarezza. Aliados divulgaram o telefonema para mostrar que Maia estava bem com Dilma. Na cerimônia militar, ontem, ela condecorou Maia e Vaccarezza, mas demonstrou frieza no contato com os petistas.

Apesar da boa receptividade ao nome de Ideli, o PMDB não deverá deixar de cobrar mudanças efetivas no modelo da articulação política. Ao longo da semana, peemedebistas alertaram para o risco de Dilma passar por dificuldades no Congresso, se não estabelecer nova relação com o Legislativo.

Ontem, o PT da Câmara tentou uma aliança com o PMDB da Casa, prometendo a vaga de líder do governo, se Vaccarezza virasse ministro. Isso foi vetado pelo Planalto, que ficaria refém do PMDB em todas as posições de interlocução com o Congresso.