Título: Fragilidade grega testa a Europa
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Fonte: O Globo, 17/06/2011, Opinião, p. 6

A Grécia parece uma bomba-relógio cujo tique-taque ecoa nos corredores da União Europeia, nos gabinetes dos governos dos países-membros, nos escritórios de grandes bancos europeus e nos mercados financeiros internacionais. Nas ruas de Atenas e outras cidades gregas, manifestantes protestam contra as novas medidas amargas que terão de suportar e entram em choque com as forças de segurança. O primeiro-ministro socialista Georges Papandreu enfrenta resistências até em seu próprio partido (o Pasok) para formar um novo governo e submetê-lo a um voto de confiança no Parlamento domingo.

A situação econômico-financeira da Grécia é gravíssima e continuará assim mesmo se o premier obtiver a confiança. Mas, neste caso, será mais tranquilo para a UE e o FMI desembolsarem uma nova parcela - 12 bilhões de euros (US$17 bilhões) - do pacote de 110 bilhões (US$155 bilhões, ou 47% do PIB grego) concedido há um ano em caráter de emergência, sob drásticas condições. A Grécia não conseguiu atendê-las, apesar das medidas de austeridade impostas à população, e está de novo à beira do precipício.

Se Papandreu não obtiver a confiança do Parlamento, o mais provável é que o país caminhe para um default de sua dívida soberana, o que significaria a explosão da bomba-relógio, pondo em risco o euro e enviando estilhaços principalmente a bancos franceses e alemães, principais credores da Grécia, mas também a todo o sistema financeiro mundial. É por isso que alguns já comparam o país ao banco Lehman Brothers, cuja falência, em 2008, jogou o sistema financeiro americano no buraco.

Nesse caso, o grande temor é o efeito de contágio, que poderia levar de roldão outros países da UE em situação precária, numa bola de neve de consequências imprevisíveis. Os mais expostos são Portugal e Irlanda, mas há risco de que os tremores alcancem a Espanha e, até, a Itália.

A grande diferença entre a crise americana e a europeia é que a primeira envolveu um grande país e sua moeda, e havia alguns parâmetros do que não devia ser feito, devido à experiência da Grande Depressão dos anos 30. Já a segunda envolve uma união política recente de vários países, que resolveram dar o ousado passo de adotar uma moeda única, o euro. Nos primeiros anos, tudo caminhou bem. Nesta que é a primeira grande crise, afloraram as desvantagens de se pôr, num mesmo arcabouço monetário, países com economias tão díspares, em tamanho e dinamismo, como Alemanha e França, de um lado, e Grécia e Portugal, do outro.

É um enorme teste para a sobrevivência do euro e da própria UE, pois caminha-se sem mapa nem bússola. A rica Alemanha reluta em pôr mais dinheiro do contribuinte alemão para ajudar países que não fizeram o dever de casa. Berlim quer que os bancos assumam uma parte do prejuízo. Já se disse que os países mais fracos teriam que abandonar a zona do euro e voltar às suas antigas moedas para poderem implementar medidas de recuperação de sua economias. Mas isto significaria que suas dívidas no euro forte teriam de ser pagas em desvalorizadas dracmas ou escudos. A solução não pode ser esta.