Título: À espera de sinais de mudança
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Fonte: O Globo, 14/07/2011, Opinião, p. 6

Perdeu força a crise deflagrada pelo afastamento, pela presidente Dilma Rousseff, de auxiliares diretos do ainda ministro Alfredo Nascimento e, em seguida, a defenestração do próprio. O sinal mais visível de que a temperatura baixou no choque entre o Planalto e o PR foi a burocrática passagem de um dos afastados, Luiz Pagot, do Dnit, pelo Senado e Câmara. Homem do esquema do senador Blairo Maggi (PR-MT), Pagot, desde 2007, ainda com Lula, esteve no comando de um dos pontos cardeais do mapa da corrupção desenhado nos Transportes, na longa gestão do PR no ministério, iniciada com o primeiro governo Lula, a partir de 2003.

Um irritado Maggi recusou o convite de Dilma para o lugar de Nascimento - preferiu não correr o risco de ser o telhado de vidro da vez -, enquanto ameaças de retaliação por parte de Luiz Pagot circularam na imprensa. Até o nome de Paulo Bernardo chegou a ser citado como inspirador de alguns dos conhecidos aditivos em contratos com empreiteiras, quando era ministro do Planejamento. Houve desmentidos veementes.

Mas Pagot, na passagem pelo Congresso, isentou Paulo Bernardo de qualquer participação em pedidos de aditivos, não implicou o PT, mas frisou que as decisões no Dnit são em colegiado, incluindo a participação do novo ministro, Paulo Sérgio Passos, secretário-executivo da Pasta. Luiz Pagot, portanto, não perdeu a chance de mandar um recado.

Na terça-feira, no Senado, depois de cinco horas de depoimento, o Dnit de Pagot saiu como um mosteiro de carmelitas, sem qualquer desvio de conduta. Ninguém acredita. Mas um novo jogo precisa ser jogado a partir de agora. Dilma nomeou quem queria, Paulo Sérgio, e precisará demonstrar que as mudanças não foram feitas para tudo continuar na mesma.

Um dos indicadores definitivos será o destino de Pagot. Se continuar no Dnit, quando voltar de "férias", em 5 de agosto, o Planalto ficará desmoralizado. Pois o departamento, o ex-DNER, é peça-chave na conversão dos Transportes em balcão de múltiplos negócios: do abastecimento de caixa dois partidário, via propinas pagas por empreiteiros beneficiados nas obras, ao uso de verba pública a fim de cooptar políticos para o PR, atraídos pela execução de projetos em suas bases eleitorais. Paulo Sérgio Passos, funcionário de carreira do ministério, mesmo filiado ao PR não contou com apoio do partido na nomeação. Ponto para ele. Assume com um discurso pela lisura: "Meu compromisso é com um trabalho honesto, competente."

A oposição fala em um grande acordo, cujo resultado seria nenhum avanço contra a corrupção. É cedo para dizer. Se depender do negocista-mor do PR, deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) - mensaleiro, com pena pedida de 9 a 35 anos de cadeia -, ministro virtual dos Transportes na gestão Nascimento, a Pasta continuará subordinada ao fisiologismo. Costa Neto, numa desabrida entrevista a uma rádio de Mogi das Cruzes, interior paulista, sua base eleitoral, defendeu a necessidade de fazer nomeações no Banco do Brasil e na Caixa para avalizar com rapidez empréstimos para aliados. É assim que funciona.

Ao intervir no ministério, Dilma abriu campo de manobra para moralizar a área. Precisará ocupar o quanto antes este espaço e dar demonstrações concretas de que uma relação política distorcida de oito anos e meio acabou de fato.