Título: Correa segue Chávez até nas crises
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Fonte: O Globo, 24/07/2011, Opinião, p. 6

O presidente do Equador, Rafael Correa, acaba de demonstrar do que é capaz ao subjugar o Judiciário e, com ele nas rédeas, condenar um jornalista do "El Universo", Emilio Palacio, e os donos do jornal, Carlos, Cezar e Nicolás Pérez. Por um artigo pelo qual se sentiu caluniado, a pena foi três anos de prisão e multa de US$40 milhões - impagável, já disseram os perseguidos por Correa.

O escândalo deriva do modelo bolivariano chavista adotado por Correa, inspirado em Hugo Chávez. O roteiro é o mesmo: eleito democraticamente, ele passou a corroer as instituições democráticas por dentro, submetendo o Legislativo e o Judiciário e criando um super-Executivo, que tudo pode e, supostamente, sabe o que é melhor para os cidadãos. É a cara da velha ditadura.

Se, no plano político, Equador e Venezuela caminham de mãos dadas no projeto autoritário bolivariano, na questão do petróleo estão separados por bilhões de barris. A Opep, organização dos países exportadores de petróleo, da qual os dois participam, acaba de confirmar um crescimento de 40,4% nas reservas do país de Chávez, para 296,5 bilhões de barris, com o que ele ultrapassa a Arábia Saudita (264,5 bilhões). É verdade que o óleo saudita é leve e de alta qualidade, enquanto o venezuelano é pesado e exige grandes investimentos em refino, mas é um salto e tanto.

Trata-se de uma situação paradoxal para o país caribenho. Dono das maiores reservas do mundo, vê os números de produção e exportação se reduzirem devido aos desmandos do chavismo. No ano passado, a produção caiu ao menor nível desde a greve geral no setor petroleiro venezuelano em 2002 e 2003. Uma das razões foi a decisão chavista de nacionalizar as reservas, a partir de 2007, o que levou as grandes petrolíferas a deixar o país. A Exxon e a ConocoPhilips recorreram à arbitragem internacional para questionar a expropriação. A própria Petrobras teve seus ativos em reservas na Venezuela limitados a 40%, com a petrolífera estatal PDVSA ficando com 60%.

Nessa área, o Equador é um peso leve, com reservas de 7,2 bilhões (crescimento de 10,7% em 2010). Mas nem por isso deixa de criar problemas para a Petrobras. A estatal decidiu deixar o país em 2010, quando terminou o prazo para que as petroleiras assinassem um novo modelo de contrato exigido pelo governo Correa. As condições reduziram a autonomia das empresas, transformando-as em prestadoras de serviços - o que não interessou à Petrobras.

Se, na Venezuela, ao invés de malbaratar a receita do petróleo com planos mirabolantes e programas de ajuda milionária aos poucos aliados externos, Chávez tivesse tido a clarividência de reforçar o caixa da nação, disporia hoje dos recursos necessários para fazer parcerias com o setor privado a fim de investir na exploração do petróleo pesado da Faixa do Orenoco, onde houve o redimensionamento das reservas registradas pela Opep. Já o Equador de Correa segue os passos de Caracas e o faz com fervor na coerção da liberdade de imprensa, expressão e opinião. São regimes opacos, cheios de zonas de sombras onde escasseia a democracia e grassa a corrupção. Até na debacle Correa imita Chávez.