Título: Temer tenta conter PMDB e Henrique Alves
Autor: Camarotti, Gerson; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 24/08/2011, O País, p. 10

CRISE NA BASE

Vice não consegue cancelar indicação de Eduardo Cunha para relatoria do Código de Processo Civil

BRASÍLIA. Preocupado com o racha no PMDB e a guerra fratricida de grupos por cargos, o vice-presidente Michel Temer saiu a campo para tentar contornar o impasse na bancada. De um lado, apelou ao líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), para voltar atrás na indicação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na relatoria do Código de Processo Civil. De outro, advertiu a bancada de que não é hora de desestabilizar o ministro do Turismo, Pedro Novais, fragilizado com denúncias de corrupção na sua pasta.

Segundo deputados peemedebistas, Temer teme que a guerra interna deixe o PMDB enfraquecido, e, por isso, tenta viabilizar proposta de segurar Novais por enquanto. A estratégia do comando do PMDB é substituir Novais numa reforma ministerial, que deve acontecer na virada do ano. A própria presidente Dilma Rousseff tem dito de forma reservada que não quer mais efetuar mudanças no seu ministério, e que só fará isso se for extremamente necessário.

As conversas de Temer com os peemedebistas ocorreram nos últimos dois dias. Na segunda-feira, o vice-presidente teve um encontro reservado com Henrique Alves e sugeriu que ele tivesse uma conversa com Eduardo Cunha. Mas o líder peemedebista está irredutível. A cúpula do PMDB teme que Henrique Alves fique enfraquecido politicamente ao insistir na indicação de Cunha.

Para segurar Cunha na relatoria do Código Civil, Henrique Eduardo Alves acertou com os demais partidos criar subrelatorias dentro da Comissão Especial. Além disso, haverá uma comissão de 15 notáveis, juristas, que participarão das discussões.

Em relação a Eduardo Cunha, ele disse que não aceita substituir a indicação.

- O Eduardo Cunha pediu em fevereiro a relatoria. Agora que outros deputados pediram, não é correto mudar -- disse o líder do PMDB.

Geddel é identificado como integrante da revolta

Dentro do PMDB, a cúpula identificou em Geddel Vieira Lima (BA) e no irmão, o deputado Lúcio Vieira (BA), parte da revolta. O ex-ministro não aceita o veto do governador da Bahia, Jaques Wagner, à sua indicação ao comando do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) no estado. Já o deputado quer substituir o agora ministro Mendes Ribeiro no cargo de líder do governo no Congresso. Depois da reunião, o líder do PMDB saiu para conversas com a deputada Rose de Freitas (ES) e Danilo Fortes (CE), outros focos de reclamações.

No encontro de líderes, Henrique Alves ainda foi informado da nova promessa do governo: liberar até quinta-feira R$475 milhões referentes aos chamados restos a pagar (pagamentos de anos anteriores) e ter na sexta-feira um cronograma sobre o empenho (garantia de pagamento futuro) das emendas apresentadas pelos parlamentares ao Orçamento da União de 2011.

Ao mesmo tempo, Henrique Alves fez uma defesa enfática da permanência de Pedro Novais. Sua saída foi pedida por um grupo dissidente de 35 deputados peemedebistas, que inclui Rose de Freitas, vice-presidente da Câmara.

- Não há nada contundente contra o ministro Pedro Novais. Por que ele deveria deixar o governo? - questionou Henrique Alves.