Título: Manobra aliada ajuda oposição
Autor: Pereira, Daniel; Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 20/08/2009, Política, p. 5

Jucá queria convocar Dilma e em seguida votar contra. Não deu certo

Apesar de saber que tem poucas chances de convocar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, a oposição na Casa decidiu manter a proposta se aproveitando de um deslize da base aliada. Os integrantes do grupo de apoio ao governo pretendiam aproveitar a ausência de adversários na sessão de ontem para apresentar uma proposição pedindo a presença de Dilma e em seguida votar contra ela. Não deu certo. Percebendo a manobra, o presidente da CCJ, Demostenes Torres (DEM-GO), suspendeu os trabalhos e determinou que o requerimento seja votado em uma das próximas quartas-feiras.

¿Como às quartas-feiras a CCJ analisa os assuntos mais polêmicos, vamos apresentar o requerimento para ser votado nesse dia¿, afirmou Demostenes. A oposição, agora, espera novo tropeço da bancada do governo, como a ausência da maioria de seus senadores, para tentar convocar Dilma a depor sobre a suposta reunião que teria havido entre ela e a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, no fim do ano passado. Na terça-feira, Lina reafirmou na CCJ o encontro com a ministra. Na ocasião, Dilma teria pedido que a ex-secretária agilizasse as fiscalizações contra Fernando Sarney. Dilma nega.

O tropeço na estratégia da bancada governista não é o primeiro desde o início do episódio. Na semana passada, a ausência de senadores da base aliada permitiu a convocação de Lina Vieira à CCJ. Depois do depoimento da ex-secretária da Receita, a oposição já tratava o assunto com indiferença, até que o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), surpreendeu os adversários e entrou com a proposta de convocação de Dilma.

Suspensão Os governistas pretendiam enterrar de vez a possibilidade de Dilma ser convocada pela CCJ do Senado, mas o presidente da comissão agiu mais rápido e suspendeu a sessão antes que os parlamentares da base aliada pudessem votar contra a convocação. A iniciativa de Demostenes irritou Jucá, que ameaçou obstruir a análise de outros projetos na CCJ. ¿Eu retiro o requerimento e toda a base vai entrar em obstrução na CCJ¿, garantiu o líder do governo, acusando o colega de dirigir a comissão de forma parcial ao encerrar a sessão.

Demostenes se defendeu dizendo que o assunto, por ser sério, não poderia ser tratado por meio de manobras governistas e admitiu que sua decisão foi estratégica. ¿Manobra por manobra, nós também sabemos fazer¿, argumentou o senador do DEM. Segundo ele, a oposição não vai desistir de votar o requerimento governista, mesmo que isso leve tempo.