Título: Para Dilma, Lina foi leviana
Autor: Pereira, Daniel; Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 20/08/2009, Política, p. 5

Crítica a ex-secretária da Receita foi feita internamente. Em público, o governo prefere enterrar a polêmica

Lina diz que Dilma pediu agilidade em caso contra o filho de Sarney

Pré-candidata à Presidência, a ministra Dilma Rousseff ainda não comentou em público o depoimento da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira no Senado. Nos bastidores, no entanto, atirou contra a ex-chefe do Fisco, que a acusa de interferência indevida por pedir agilidade numa investigação sobre a família Sarney. Em conversa com aliados, Dilma considerou uma ¿leviandade¿ a versão de Lina e seus esclarecimentos prestados aos senadores. Ironizou, inclusive, o fato de a servidora, logo no início da audiência, ter declarado que não foi pressionada a engavetar o caso.

Com base nessa análise, Dilma e políticos próximos a ela cogitaram na quarta-feira, quando o depoimento ainda transcorria, divulgar uma nota dando por encerrado o embate verbal com a ex-secretária. A ideia foi arquivada. E a dúvida sobre quem fala a verdade persiste. Menos para o governo, que teme o efeito político do caso na campanha eleitoral. ¿Não houve o tal encontro.

A história dela é cheia de buracos¿, disse um ministro com gabinete no Palácio do Planalto. ¿Acabou. Virou-se a página¿, acrescentou José Múcio Monteiro, titular de Relações Institucionais.

No Senado, a ex-secretária não disse quando houve a alegada intervenção de Dilma nem apresentou provas do suposto encontro. Apesar disso, relatou qual caminho percorreu até chegar à chefe da Casa Civil, da garagem do Planalto até a antessala do gabinete da ministra. Lina identificou até o motorista que lhe serviu no trajeto de ida e volta. ¿Apesar do bate-boca, ficou no ar o fundamental: em que dia houve o encontro¿, afirmou ontem o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), depois de uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Apesar da declaração de Jucá, os detalhes mencionados por Lina reforçaram em governistas a suspeita de que a ministra fez o pedido, sendo indiferente se numa conversa privada ou não. De início, a suspeita se sustentava só no histórico de intervenções de Dilma e no seu poder centralizador. Nada, no entanto, que leve a base aliada a votar por uma acareação. ¿Não há caminho para isso no Senado¿, declarou Jucá. Ontem, o Correio perguntou à Presidência da República por que não são divulgadas imagens que registraram a entrada de autoridades e visitantes no Planalto durante dezembro.

A resposta foi dada em nota assinada pela assessoria do Gabinete de Segurança Institucional: ¿A divulgação solicitada esbarra na necessidade de ser preservado o direito de privacidade, seja dos visitantes, das autoridades ou de outros agentes públicos visitados¿.

Apesar do bate-boca, ficou no ar o fundamental: em que dia houve o encontro¿

Romero Jucá, líder do governo

Acabou. Virou-se a página¿

José Múcio Monteiro, ministro de Relações Institucionais

A divulgação solicitada esbarra na necessidade de ser preservado o direito de privacidade, seja dos visitantes, seja das autoridades ou de outros agentes públicos visitados¿

Resposta do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República ao Correio. A reportagem perguntou por que não são divulgadas imagens que registraram a entrada de autoridades e visitantes no Planalto em dezembro