Título: Crédito barato do BNDES tira brilho da Bovespa
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 11/09/2011, Economia, p. 32/33

Banco de fomento se diz preocupado em reduzir participação

Além da elevada taxa básica de juros (Selic), ainda seguram o desenvolvimento do mercado de capitais nacional a facilidade para as grandes empresas conseguirem financiamento público e o incipiente mercado de títulos de dívida privada - emitidos por empresas. No caso do financiamento público, alguns especialistas criticam a dependência excessiva do BNDES como fonte de crédito.

- Aqui no Brasil, a empresa só abre o capital depois de ir ao BNDES. O custo de ir à Bolsa é maior do que o de endividar-se - afirma a economista Ana Novaes, sócia da Oitis Consultoria.

Segundo ela, o fato de o banco de fomento oferecer taxas de juros mais baixas contribui para formar um ciclo vicioso, em que o setor privado não financia o investimento produtivo porque a Selic é alta, e a taxa é alta, em parte, porque o Estado oferece financiamentos mais vantajosos para poucas empresas.

O BNDES destaca, por sua vez, que tem atuado, desde o fim do ano passado, para fomentar o mercado de títulos de dívida privada, abrindo espaço para aumentar a participação privada nos investimentos. "A atuação do BNDES, via concessão de financiamentos, não é contraditória com as ações de estímulo ao mercado de capitais", diz o banco de fomento em nota.

Para o economista Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, da NEO Investimentos, é um avanço o BNDES estar preocupado em abrir espaço para o financiamento privado:

- O BNDES tem papel fundamental em políticas anticíclicas, mas, na normalidade, o mercado de capitais pode suprir a necessidade de financiamento.

Iniciativas tentam fomentar mercado de debêntures

Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em agosto, o volume mensal de negócios com debêntures - títulos emitidos por empresas - foi o segundo maior do ano, com R$1,7 bilhão.

Já o BNDES tem atuado no mercado secundário de debêntures e como emissor de títulos. Até agosto, sua carteira de debêntures totaliza R$ 1,8 bilhão.

Outra iniciativa nesse campo é o projeto de Novo Mercado de Renda Fixa, conduzido pela Anbima, com regras de autorregulação para reduzir os custos da emissão das debêntures.

Mas tudo isso ainda é pouco, segundo Chrysostomo. Para ele, o Brasil tem tudo para ter o mercado de capitais de maior destaque entre os países emergentes, quando a estabilização econômica estiver completa. Marco legal, sistema de autorregulação e governança corporativas são destaque no país.

- O marco regulatório do mercado de capitais nacionais está no nível dos países desenvolvidos - concorda Jean Marcel Arakawa, sócio do escritório Mattos Filho, que auxiliou dez das 21 ofertas deste ano. (Vinicius Neder)